"Leia-se o documento de entendimento entre PS e PSD, sobre fundos comunitários - uma espécie de tratado entre raposas para guardarem o galinheiro -, e ver-se-á que, ao contrário da preocupação propalada pelo Governo com a agricultura familiar, aí nem uma linha. É sempre a mesma lógica: competitividade, exportação, escala", disse Jerónimo de Sousa.
O líder comunista discursava perante militantes e outros agentes dos setores agrícola, pecuário e das pescas, num centro de trabalho do partido, em Lisboa, numa sessão pública subordinada ao tema: "soberania alimentar, opção estratégica para o presente e futuro do país".
O secretário-geral do PCP não excluiu o CDS-PP, devido a participações em anteriores executivos e declarou que "a responsabilidade política deste percurso cabe por inteiro ao PS, ao PSD e ao CDS, que convergiram na liquidação da reforma agrária, no ataque à agricultura familiar, na submissão à UE e aos interesses dos monopólios".
"Muitos poderão perguntar-se, como chegámos à situação em que nos encontramos? Como é possível que depois de se gastarem milhares de milhões de euros de fundos comunitários e nacionais, a agricultura, as pescas, estejam assim? Então não foi prometido aos agricultores, aos pescadores, aos produtores portugueses o mar de rosas de 300 milhões e depois 500 milhões de consumidores à espera da produção nacional? Afinal foram as produções desses países que entraram por Portugal adentro", lamentara antes.
Segundo o líder comunista, um terço do que se come em Portugal é importado, em virtude da Política Agrícola Comum e da adesão à moeda única, por exemplo, as quais considerou só terem beneficiado as grandes potências, como a Alemanha ou a França.
"Responsabilidades passadas, mas também responsabilidades no presente, como as que tem o Governo minoritário do PS que, por sua opção, converge com PSD e CDS na submissão às imposições da UE, mesmo que tal se possa traduzir na liquidação de um setor nacional, como é o caso do leite", insistiu.
Jerónimo de Sousa nomeou mesmo o atual executivo de António Costa, "que prefere responder ao défice das contas públicas, em vez de mobilizar os meios que tanta falta fazem para concretizar uma política que substitua importações por produção nacional".
O líder comunista recordou que, "para o PCP", não foi preciso ver o Portugal "a ser devorado pelas chamas para, insistentemente, ter chamado a atenção para os problemas da floresta e do mundo rural".
"[O partido] também não ficará à espera de uma futura crise especulativa em torno dos preços dos alimentos como aconteceu a que ocorreu em 2008, de dificuldades súbitas no abastecimento por ar, por terra ou por mar ou de oscilações meteorológicas ou climatéricas com impactos severos, para chegar à conclusão de que o país tem que produzir, a partir dos seus próprios meios e recursos, o fundamental daquilo que precisa para se alimentar", atestou.
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