Na sessão evocativa dos 60 anos da fuga de Álvaro Cunhal e outros nove companheiros da Fortaleza de Peniche, nesta cidade do distrito de Leiria, Jerónimo de Sousa referiu que a fuga foi “em primeiro lugar uma grande vitória” do PCP, com um “notável reforço do partido”.
Essa “nova dinâmica”, como lhe chamou, refletiu-se na jornada de luta do 1º de Maio de 1962, em lutas como a da conquista das oito horas de trabalho, no funcionamento da Rádio Portugal Livre, em 1962, e na organização do VI Congresso do partido.
“Mas foi muito mais do que isso. Foi como que abrir uma fenda na muralha do regime fascista”, reconheceu o líder dos comunistas.
O enfraquecimento do regime ditatorial e a reorganização do PCP, acrescentou, “criaram as condições para a Revolução” do 25 de Abril de 1974.
Sobre o projeto do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, que está previsto para a fortaleza, Jerónimo de Sousa disse que, “num tempo em que forças de extrema direita e do próprio fascismo tomam posições e crescem na Europa e no mundo, o museu ainda tem mais valor e configura “uma permanente presença de reafirmação da importância da luta pela democracia e pela liberdade”.
A fuga “exigiu uma longa preparação e uma eficaz coordenação entre os presos e os seus apoios no exterior”, refere o catálogo da exposição “Por teu Livre Pensamento”, patente desde abril na Fortaleza de Peniche e que é uma antevisão do que virá a ser o museu.
A fuga obrigou à execução de um plano prévio, que começou por estudar todas as hipóteses e sobretudo o trajeto entre as celas e a muralha.
Iniciou-se em 03 de janeiro, depois do jantar, com os presos Guilherme da Costa e Carlos Costa a imobilizar o guarda prisional e a pô-lo a dormir com um lenço embebido em éter.
Os 10 fugitivos começaram a sair, um a um, debaixo do capote do GNR, que conseguiram envolver e que os levava até à muralha, de onde desceram para o exterior.
Esperavam-nos três automóveis, que os transportaram para longe.
Entre os fugitivos estavam Álvaro Cunhal, na altura um dos mais destacados dirigentes do PCP, eleito secretário-geral do partido um ano e três meses depois, e Jaime Serra, outro dirigente do PCP, que liderava o ‘braço armado’ do partido durante a Guerra Colonial e que já tinha fugido antes das prisões de Peniche e de Caxias. Pertenceu à Comissão Política e foi deputado do partido após o 25 de Abril de 1974.
A eles juntaram-se Joaquim Gomes, Carlos Costa, Francisco Miguel, Pedro Soares, Guilherme da Costa Carvalho, Rogério de Carvalho, José Carlos e Francisco Martins Rodrigues, dirigentes comunistas, alguns dos quais participaram nos preparativos ou noutras fugas e se tornaram deputados após a Revolução de Abril.
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