Na sexta-feira, Bordalo II estendeu uma "passadeira da vergonha", composta por representações de notas de 500 euros, no palco-altar no Parque Tejo, em Lisboa, numa crítica aos “milhões do dinheiro público” investidos no encontro mundial de jovens com o Papa.
“Nós vivemos num Estado de Direito, vivemos num regime democrático que vai fazer 50 anos. Vivo bem, vivemos bem com aquilo que é a liberdade de expressão dos cidadãos. O que eu peço é que aconteçam [eventuais protestos] sempre no maior respeito uns pelos outros, quer quando seja a meu favor, quer quando seja contra”, disse Américo Aguiar à agência Lusa.
Para o futuro membro do colégio cardinalício, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), “sendo um acontecimento promovido pela Igreja Católica, em todos os países tem criado sempre alguma reação negativa”.
“Não digo que seja normal, mas é compreensível que isso aconteça, porque a JMJ é um convite da Igreja Católica, é uma iniciativa do Papa Francisco, é um encontro de jovens maioritariamente cristãos católicos, aberto a todos os jovens, de todas as religiões, [ou] mesmo sem religião, e isto não é unânime que seja positivo para toda a gente”, acrescentou o bispo.
Américo Aguiar afirmou, ainda, que pede “um voto de confiança de que é uma coisa boa, positiva, importante para os jovens do mundo inteiro, para os jovens portugueses, e que as contas se fazem no fim”.
“Quer dizer, nós podemos discutir o apoio do Estado, quer à JMJ, quer em relação a muitas outras coisas”, acrescentou o prelado, não deixando de reiterar: “como eu disse, vivemos num Estado de Direito. O Estado foi previamente consultado, tomou uma decisão, essa decisão está a ser concretizada, existem órgãos de consulta, órgãos de acompanhamento, fiscalização, está tudo a funcionar e, portanto, no fim, fazem-se as contas, fazem-se os balanços”.
“Da nossa parte, apresentaremos auditoria e as contas finais. E o que eu peço é que avaliem e depois, cada um, concorde, não concorde no respeito por todos”, disse.
Lisboa foi a cidade escolhida pelo Papa Francisco para a próxima edição da JMJ, que vai decorrer entre os dias 01 e 06 de agosto deste ano, com as principais cerimónias a terem lugar no Parque Eduardo VII e no Parque Tejo, a norte do Parque das Nações, na margem ribeirinha do Tejo, em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures.
A JMJ nasceu por iniciativa do Papa João Paulo II, após o sucesso do encontro promovido em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude.
O primeiro encontro aconteceu em 1986, em Roma, tendo já passado, nos moldes atuais, por Buenos Aires (1987), Santiago de Compostela (1989), Czestochowa (1991), Denver (1993), Manila (1995), Paris (1997), Roma (2000), Toronto (2002), Colónia (2005), Sidney (2008), Madrid (2011), Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016) e Panamá (2019).
A edição deste ano, que contará com a presença do Papa Francisco, esteve inicialmente prevista para 2022, mas foi adiada devido à pandemia de covid-19.
O Papa Francisco foi a primeira pessoa a inscrever-se na JMJ Lisboa 2023, no dia 23 de outubro de 2022, no Vaticano, após a celebração do Angelus.
“Alívio e gratidão” na véspera da abertura da Jornada
A pouco mais de 24 horas da missa inaugural, é com “alívio, alegria e gratidão” que o presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023 vê o aproximar da abertura do encontro mundial dos jovens com o Papa, em Lisboa.
“Alívio, alívio, alívio, alegria e gratidão, [pelo] caminho feito, o envolvimento de Portugal, dos portugueses, do Portugal real, acima de tudo, depois de quatro anos de caminho, de peregrinação dos símbolos, de pedidos de ajuda, de auxílios, de partilhas”, disse o bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar, à agência Lusa.
“Chegados aqui, só temos de agradecer. Só temos de estar muito agradecidos ao Estado, ao Governo, às autarquias, às empresas, às instituições, às famílias, aos cidadãos anónimos, a todos”, acrescentou o futuro cardeal, frisando que o “sentimento maior da organização desta jornada é exatamente esse”, o de uma “gratidão imensa”.
Para o líder da equipa que desde 2019 trabalhou na organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que decorre entre terça-feira e domingo, contando com a presença do Papa Francisco, “agora é confiança em Deus”.
“O que nós podíamos fazer está feito e agora é confiar e seja o que Deus quiser”, afirmou.
Américo Aguiar destacou a última semana, com os chamados Dias nas Dioceses, que levaram milhares de jovens estrangeiros a todo o país.
“Foram experiências únicas [as vividas] nesta semana que, entretanto, está a terminar. É a Jornada Mundial da Juventude a acontecer na geografia mais próxima de cada um”, considerou o prelado, admitindo que “poderão ter estado envolvidos mais de 100.000 jovens de vários países que, durante a semana, estiveram no Portugal real em todas as dioceses”.
O bispo auxiliar de Lisboa, que no sábado esteve em Coimbra e falou com jovens estrangeiros que ali viveram os Dias nas Dioceses, realçou que “estavam maravilhados, maravilhados com os portugueses, com a gastronomia, com a cultura, com a música, com a religião. Estavam maravilhados, só tem um problema: é que vão chegar cansados a Lisboa, mas disso, recuperarão certamente”.
Confiante no sucesso da Jornada, que espera Américo Aguiar dizer ao Papa Francisco quando se despedir dele no aeroporto, no dia 06 de agosto? A resposta é simples: “Gostaria de lhe dizer que ficámos muito felizes, que os jovens portugueses e os jovens do mundo inteiro ficaram muito felizes com a sua presença, com o testemunho da sua fé, com a sua confirmação da nossa fé, com as palavras que nos dirigiu, com as palavras que dirigiu ao mundo inteiro e que esta juventude, esta geração JMJ Lisboa 2023, vai marcar e mudar o mundo com toda a certeza”.
A partir do final da JMJ, será tempo de este prelado se começar a preparar para mais uma mudança na sua vida. Lisboa, como futuro patriarca, ou em Roma, como colaborador próximo do Papa Francisco, são duas das hipóteses que têm sido sugeridas desde que foi conhecida a decisão do pontífice de fazer de Américo Aguiar cardeal em 30 de setembro. Aguiar não mostra ansiedade, como que a dizer: “venha o que vier!”
“No dia 08 de julho de 2001 fui ordenado padre, nesse dia, as minhas vontades ficaram lá. A partir daí, a motivação é Cristo Vivo e eu tenho correspondido àquilo que a Igreja me pede. Sempre que eu estou a terminar qualquer coisa, aparece outra. Portanto, no dia 07 de agosto, a mala está pronta, o saco-cama está enrolado, o cantil tem água e estou disponível, sou escuteiro, 'sempre alerta para servir'", garantiu.
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