De nome completo, Maria Joana Raposo Marques Vidal nasceu em 1955, em Coimbra e licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1978. Em 1994, foi promovida a procuradora da República e colocada na comarca de Lisboa.
O caminho na Procuradora-Geral da República inicia-se a 12 de outubro de 2012 e termina 2 de outubro de 2018. Como principais dossiês durante os anos de mandato ficará na memória coletiva a Operação Marquês, processo que, pela primeira vez, levou à prisão preventiva de um ex-primeiro-ministro, José Sócrates.
Além do antigo governante, consta ainda como nome nesta investigação Ricardo Salgado, entre outros 26 arguidos, numa investigação que começou em 2014, sob a tutela do procurador Rosário Teixeira que deduziu a acusação a 11 de outubro de 2017.
Na altura em que Vidal deixou o cargo, José Sócrates estava acusado de 31 crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada.
Já a investigação ao Banco Espírito Santo contava com 17 arguidos, 14 pessoas singulares e três coletivas, sendo Ricardo Salgado o mais relevante mediaticamente.
Foi a primeira mulher a liderar a Procuradoria-Geral da República Portuguesa e o último cargo conhecido era de funções no Gabinete do Ministério Público junto do Tribunal Constitucional.
Desde 1979 trabalhou como Magistrada do Ministério Público, tendo atuado como Delegada do Procurador da República nas Comarcas de Vila Viçosa, Seixal e Cascais. Foi a primeira Presidente da Comissão de Proteção de Menores da Comarca de Cascais e entre 1994 e 2002, exerceu o cargo de Procuradora da República Coordenadora do Ministério Público do Tribunal de Família e Menores de Lisboa.
De 2002 a 2004, desempenhou funções de Diretora-Adjunta do Centro de Estudos Judiciários (CEJ), onde também deu aulas na área de Família e Menores.
De seguida, foi nomeada Auditora jurídica do Ministro da República para a Região Autónoma dos Açores e representante do Ministério Público na Secção Regional dos Açores do Tribunal de Contas e foi a primeira mulher a presidir à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), entre 2007 e 2012, ano em que assumiu a Vice-presidência da Direção da Associação Portuguesa para o Direito dos Menores e da Família – Crescer Ser.
Além destes cargos, fez diversas participações, como oradora, em conferências, seminários e colóquios sobre temáticas das áreas da infância e da juventude, das vítimas de crime, da violência doméstica, da formação de magistrados e do Estatuto do Ministério Público, bem como relativas à corrupção e à criminalidade económico-financeira e outras áreas do direito e tem diversos artigos publicados em revistas da especialidade.
Desde 2019 participou também em ações de Cooperação com São Tomé e Príncipe, designadamente na área da reforma da Justiça, algumas delas sob a égide das Nações Unidas.
Em abril de 2021 foi cooptada, como membro externo do Conselho Geral da Universidade do Minho, tendo sido posteriormente eleita Presidente do mesmo Conselho, funções que desempenhava desde maio de 2021.
Em outubro de 2018, foi agraciada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.
Foi também durante o mandato de Joana Marques Vidal que se iniciou a Operação Lex, o caso no qual o juiz Rui Rangel é acusado de vender sentenças. Segundo a investigação, o desembargador oferecia-se, também, para influenciar colegas e era ajudado pela ex-mulher, a juíza Fátima Galante, a escrever os acórdãos. O processo contava na altura em que a antiga PGR abandonou o cargo com 12 arguidos, entre eles Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, acusado de pedir favores a Rangel em troca de um lugar na Fundação Benfica.
Este foi também o mandato dos incêndios de Pedrógão Grande, em 2017, que deram origem a dois processos. Por um lado, uma investigação judicial ao que falhou no combate ao fogo e no socorro às vítimas e as fraudes na reconstrução das casas danificadas pelo incêndio.
No desporto a procuradora lidou ainda com o caso e-toupeira, onde se implicaram dois funcionários judiciais da SAD do Benfica, que teve como protagonista Paulo Gonçalves, antigo assessor jurídico do clube.
O Sporting também marcou o mandato da procuradora, com a Operação Cashball onde foram constituídos arguidos dois funcionários do clube. No gabinete de André Geraldes, na altura diretor-geral do clube, foram encontrados 60 mil euros que, seriam destinados ao suborno de árbitros.
Quando abandonou a PGR em 2018 afirmou só ter sabido no dia anterior da decisão: Só soube ontem às oito da noite [uma horas antes de o anúncio ter sido feito na página da Presidência da República]”. Questionada sobre quem a informou, foi lacónica: “Foi um passarinho”.
Na altura afirmava também que tinha pena do que ficou por fazer: “Tenho pena do que não consegui fazer. Temos limitações e temos de ter opções”.
“Houve uma carência que só conseguiu ser ultrapassada pelo grau de empenho dos magistrados”, vincou na altura. “Os meios não foram todos os que queríamos”.
A ex-procuradora-geral da República morreu hoje, aos 68 anos, no Hospital de São João, no Porto, depois de ter estado várias semanas internada em coma.
A informação foi confirmada ao SAPO24 que sabe também que o agravamento do seu estalado de saúde se devia a um cancro no útero e que estava em coma induzido devido a uma operação.
A agência Lusa avança que o velório de Joana Marques Vidal será realizado a partir das 14h00 de quarta-feira na aldeia de Pedaçães, concelho de Águeda, distrito de Aveiro.
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