“É uma circunstância muito específica, muito pontual, que lamentamos, mas vira-se a página e avança-se”, afirmou o governante, enfatizando que “o importante é a continuidade das políticas, virar a página e avançar agora com um novo ou uma nova protagonista no lugar de secretária de Estado da Agricultura”.
Falando à margem do seminário sobre Cooperação, Cultura e Língua, promovido hoje em Lisboa pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e no qual fez a intervenção inaugural, João Gomes Cravinho rejeitou que as sucessivas situações que têm levado à saída de vários membros do executivo descredibilizem o Governo.
“Não há nenhuma falta de transparência, nem de credibilidade. Aliás, as questões que têm surgido têm surgido exatamente por transparência. E a credibilidade resulta do trabalho que o Governo vai fazendo de forma consistente e, portanto, agora avança-se com outra cara nesse lugar, mas com as mesmas políticas e com toda a confiança”, sustentou.
Considerando que “cada caso é um caso”, podendo “discutir-se em cada momento aquilo que aconteceu em relação a cada um dos casos”, o ministro dos Negócios Estrangeiros recordou que “uns foram demissões por motivos de saúde, outros por razões políticas, outros por questões como aquela que surgiu com a senhora secretária de Estado”.
Questionado pelos jornalistas sobre se, neste caso, deveria haver uma responsabilização da ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, João Gomes Cravinho afirmou que não: “Não vejo que seja assim. A secretária de Estado demitiu-se por entender que ela, pessoalmente, não tinha condições. Não tem a ver com a situação ser ou não ser conhecida ou partilhada. Portanto, foi uma decisão pessoal, que da minha parte só posso lamentar, mas respeitar”, disse.
Na mesma linha, o governante negou que tenha havido uma falha de análise na nomeação da secretária de Estado Carla Alves: “Não, não houve nenhuma”, disse.
Na quinta-feira, menos de 24 horas depois da tomada de posse da agora demissionária secretária de Estado da Agricultura, o Correio da Manhã noticiou o arresto de contas conjuntas que esta tem com o marido e ex-autarca de Vinhais, Américo Pereira. Ao final da noite do mesmo dia, Carla Alves apresentou a sua demissão, por entender não dispor de "condições políticas e pessoais" para iniciar funções.
O Ministério Público acusou de vários crimes e mandou arrestar bens do advogado e antigo autarca socialista de Vinhais, que saiu da liderança do município em 2017, num processo de mais de 4,7 milhões de euros que tem mais três arguidos.
Em causa estão vários negócios celebrados entre 2006 e 2015, que envolvem também uma sociedade, um empresário e o reitor do antigo seminário deste concelho do distrito de Bragança.
De acordo com a investigação, foram detetadas nas contas do casal ao longo de vários anos divergências entre os valores depositados e declarados.
Já hoje, o Ministério da Agricultura e da Alimentação veio garantir que a ministra Maria do Céu Antunes desconhecia “qualquer envolvimento em processos judiciais” da secretária de Estado demissionária.
“Considerando as recentes notícias, o Ministério da Agricultura e da Alimentação informa que a ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, não tinha conhecimento de qualquer envolvimento de Carla Alves em processos judiciais”, referiu em comunicado.
O esclarecimento do ministério surge na sequência de uma notícia de hoje do jornal Público, que refere que a secretária de Estado demissionária “informou a ministra da tutela, antes de tomar posse como governante na passada quarta-feira, acerca das contas arrestadas que partilha com o marido”.
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