“À força de concluir acordos a qualquer preço, a UE esvazia-se perante o eleitorado e desacredita-se perante os seus parceiros internacionais”, para além de acumular contradições e problemas adiados”, sustentou Jorge Sampaio, durante a sua intervenção no Dia do Politécnico de Coimbra, assinalado durante a tarde de hoje, no Convento São Francisco em Coimbra.
Com a aproximação do fim do mandato da Comissão Europeia presidida por Jean-Claude Juncker (2014-2019) e das eleições para o Parlamento Europeu (2019), com “um motor franco-alemão, que poderá estar condenado a só poder andar em terceira” e com “um grupo crescente de países liderado por governos populistas” (num contexto internacional de “enorme incerteza”), a UE pode falhar, alerta.
“É de recear que o quadro europeu que até agora tem sido um garante de paz e estabilidade possa começar a falhar nesta sua função num futuro próximo”, afirma.
Para o antigo chefe de Estado e Presidente da Plataforma Global para os Estudantes Sírios, “neste momento”, a UE é “fonte de inquietações” e produz “mais interrogações do que respostas”.
É igualmente importante, para além do plano político, “tudo o que diz respeito não só a problemas mais imediatos” (como o Brexit ou o futuro quadro financeiro plurianual), mas também “questões de fundo decisivas”, como a reforma da zona euro, a união bancária, o desenvolvimento da capacidade orçamental própria e, noutro plano, “o problema das migrações e dos refugiados”, adverte.
A propósito das migrações e dos refugiados, Jorge Sampaio destaca a “notória e persistente” incapacidade da UE em encontrar “uma solução comum, assente nos princípios e valores” que a definem.
“Deveríamos investir no aprofundamento da questão fundamental do que queremos da Europa, mas também olhar para o outro lado do espelho e, inspirados na célebre instalação de John F. Kennedy, interrogarmo-nos sobre o que podemos pela Europa como seu membro”, sintetiza Jorge Sampaio que foi Presidente da República entre 1996 e 2006.
A Europa continua “rodeada por um arco de instabilidade” e a UE confronta-se com “dossiês pesados” que colocarão à prova, mais uma vez, a sua capacidade de ultrapassar divergências e de “fazer valer valores e interesses comuns”, sustenta.
A situação internacional – conclui Jorge Sampaio – é “mais adversa do que favorável a que, nos próximos tempos, prevaleça uma conjuntura sem sobressaltos”, designadamente no plano da segurança e da defesa.
Antes, antigo presidente da Câmara de Lisboa (1990-95) e ex-líder do PS (1989 -1992) defendeu que o ensino superior, na sua dupla vertente (universitária e politécnica) tem “um papel crucial a desempenhar” na qualificação de jovens, no aperfeiçoamento da democracia, na transformação da economia, na requalificação do território e do papel do Estado e na “construção de pontes” com o resto do mundo.
“O nosso futuro passará sempre” pelas escolas de ensino superior e pela comunidade académica e “a sociedade portuguesa precisa de tomar consciência de que o seu futuro depende fundamentalmente da educação” e que o desenvolvimento do país requer “mais e melhor educação superior, formação e investigação”, apela.
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