A decisão do Tribunal foi conhecida esta sexta-feira. O recurso feito pelos dois jornalistas da Reuters condenados a sete anos de prisão foi rejeitado porque, segundo o juiz, a respetiva defesa não apresentou provas suficientes que confirmassem a sua inocência.

"O veredicto em primeira instância não foi incorreto e esteve de acordo com as leis em vigor. A corte decidiu rejeitar o recurso", disse o juiz Aung Naing diante de uma sala lotada de jornalistas e diplomatas.

Wa Lone, de 32 anos, e Kyaw Soe Oo, de 28, foram novamente declarados culpados de violarem a lei de segredos de Estado, que remonta à época colonial.

Ambos estavam a investigar a morte, em 2017, de dez rohingyas, durante ações de repressão militar contra essa comunidade muçulmana que obrigaram 700.000 pessoas a exilarem-se no Bangladesh num caso que a ONU classificou de genocídio.

O estado birmanês acusa-os de terem obtido documentos relacionados com as operações das forças de segurança birmanesas no estado de Rakain, sendo esta região do noroeste de Myanmar um dos principais palcos de abusos contra a minoria muçulmana.

O principal argumento para o recurso da defesa dos dois jornalistas foi de que essa documentação confidencial lhes foi passada numa armadilha policial para levá-los a violar a lei de segredos de Estado. O recurso dava conta de "provas convincentes" de que a detenção foi planeada pela polícia e de que houve uma série de falhas no processo da acusação que foram ignoradas.

Was e Kyaw estão presos desde dezembro de 2017. A sua condenação teve um forte impacto internacional e foi considerada o resultado de um julgamento realizado para impedir o trabalho dos jornalistas que cobrem as ações do Exército contra os rohingyas.

O editor chefe da agência Reuters,  Stephen J Adler, já reagiu à rejeição do recurso, considerando-a "mais uma injustiça dentro das muitas infligidas a Wa Lone e Kyaw Soe Oo", sendo que a única razão pela qual os dois jornalistas continuam presos é porque "aqueles no poder procuraram silenciar a verdade". Adler adiantou ainda que "enquanto o Myanmar não corrigir este terrível erro, a imprensa no Myanmar não será livre, e o seu compromisso pelo estado de direito e a democracia permanecerá em dúvida".

Apesar das críticas internacionais, a dirigente política Aung San Suu Kyi (prémio Nobel da Paz em 1991) considerou justificadas as detenções dos dois jornalistas, recusando-se a intervir durante o primeiro julgamento, apesar de o Governo que lidera ter tido a oportunidade de deixar cair as acusações contra eles.

Gorada esta tentativa de recurso, a defesa tem agora como solução recorrer ao Supremo Tribunal do Myanmar.

A 11 de dezembro, a revista Time escolheu para Figura do Ano um grupo de jornalistas, do qual fazem parte, a que chama de “os guardiões”, presos ou assassinados durante 2018 pela sua "luta pela verdade".