Juan Carlos de Borbón, envolto em suspeitas de corrupção e outras polémicas relacionadas com comportamentos considerados desrespeitosos das instituições espanholas, vive exilado nos Emirados Árabes Unidos desde 2020 e deve aterrar em Espanha na quarta-feira, para passar uns dias em Sanxenxo, na Galiza, e participar em regatas de barcos à vela.
O rei emérito, que abdicou em 2014, já esteve em maio do ano passado em Sanxenxo, naquela que foi a sua primeira viagem a Espanha desde 2020 e que acabou por ser alvo de críticas de vários setores, pela forma como Juan Carlos I anunciou a estadia e se expôs publicamente, arrastando atrás de si 300 jornalistas acreditados e organizados por um clube náutico ou aceitando uma cerimónia de homenagem do mesmo clube.
Em Sanxenxo, Juan Carlos I acabou também a saudar grupos de pessoas que se deslocaram à localidade e o receberam com gritos de “viva o rei” à sua passagem por diversos pontos.
Em paralelo, partidos e dirigentes políticos, nomeadamente os socialistas que estão no Governo nacional, entre outras vozes, lamentavam aquela passagem tão mediática e com um lado triunfal por Espanha e reclamaram que deveria ter aproveitado para dar explicações sobre a sua atuação enquanto chefe de Estado e pedir desculpa aos espanhóis.
“Explicações do quê?”, respondeu o próprio, em Sanxenxo, à questão de um jornalista.
A visita do ano passado acabou com uma escala em Madrid antes do regresso a Abu Dhabi em que Juan Carlos I se encontrou em privado com Felipe VI, revelou então oficialmente a Casa Real espanhola num comunicado.
Fontes da Casa Real acrescentaram aos meios de comunicação social que nessa conversa o atual monarca condenou o “circo” em que se havia transformado a deslocação a Sanxenxo e pediu a Juan Carlos I para ser mais discreto, sobretudo, em novas viagens a Espanha.
As mesmas fontes da Casa Real disseram que Felipe VI tinha pedido ao pai para regressar este ano a Sanxenxo, para as regatas de que é fã, só depois das eleições municipais e regionais de 28 de maio, para não haver o risco de a coroa e o futuro da monarquia se transformarem num assunto dos comícios da campanha eleitoral.
A equipa de Juan Carlos I tinha aparentemente concordado, segundo as mesmas fontes, que acrescentaram que, porém, a Casa Real espanhola ficou a saber pelos meios de comunicação social, que o rei emérito aterra já esta semana em Sanxenxo.
O Governo, através da ministra porta-voz, a socialista Isabel Rodríguez, já disse que a visita é de “âmbito privado”, mas acrescentou que o executivo já “manifestou em múltiplas ocasiões a sua opinião” em relação “à conduta do rei emérito” e continua a ser a mesma.
Isabel Rodríguez não quis, porém, estender-se na resposta ou pedir de forma clara a Juan carlos I para dar explicações aos espanhóis e para se desculpar perante o país, como já fez anteriormente o próprio primeiro-ministro, Pedro Sánchez.
Já o maior parceiro dos socialistas na coligação de Governo, o Podemos (extrema-esquerda) considerou na segunda-feira uma “indecência democrática” o regresso de Juan Carlos I a Espanha, que nunca “prestou contas em sede judicial das suas malfeitorias” e aos cidadãos do país.
E uma das vice-presidentes do Governo, a ministra do Trabalho e dirigente comunista, Yolanda Díaz, além de insistir em que faltam explicações e desculpas de Juan Carlos I, entrou no terreno que Felipe VI, precisamente, queria evitar e, numa entrevista à televisão La Sexta no domingo à noite, reafirmou que é republicana e que o futuro da monarquia tem de entrar no debate público, o que anteviu que irá acontecer “na próxima década”.
Os analistas e peritos na monarquia espanhola concordam em que o debate sobre o futuro da monarquia se aproxima e será inevitável dentro de algum tempo, por a atual herdeira do trono, Leonor de Borbón, chegar à maioridade em outubro deste ano e ser necessário mudar a Constituição, que dá prioridade aos homens sobre as mulheres nos direitos sucessórios.
Essa alteração da Constituição exige um referendo nacional, o que colocará a questão da monarquia no centro do debate público.
Entre os partidos da direita, as críticas são menores e dizem que Juan Carlos I é um cidadão espanhol que pode livremente visitar o país, de forma privada e quando quiser.
Apesar de aparentemente estar a regressar a Espanha numa decisão unilateral, sem atender ao calendário que lhe deu a Casa Real, Juan Carlos I está a ser mais discreto em relação a esta deslocação, desconhecendo-se, por enquanto, e ao contrário do que aconteceu em 2022, a hora a que chegará, onde vai ficar alojado ou que percursos vai fazer na Galiza.
A justiça espanhola arquivou em março do ano passado os três casos que estavam relacionados com o rei emérito, por alguns dos alegados crimes já terem prescrito e por Juan Carlos I não poder ser processado pelas “irregularidades fiscais” de que foi culpado entre 2008 e 2012 devido à sua imunidade como chefe de Estado.
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