Myanmar tem sido palco de protestos e outros atos de desobediência civil desde o golpe militar de 01 de fevereiro contra o Governo eleito de Aung San Suu Kyi, quando estava a começar o seu segundo mandato.
O golpe de Estado reverteu anos de progresso em direção à democracia no país do sudeste asiático, um processo que estava em curso depois de cinco décadas de regime militar.
Os militares “estão a usar táticas e armas cada vez mais letais, normalmente só vistas em campo de batalha, contra manifestantes pacíficos e transeuntes em todo o país”, referiu a organização humanitária num relatório hoje divulgado.
“Da observação de mais de 50 vídeos das repressões, o Laboratório de Provas da Crise da Amnistia Internacional pode confirmar que as forças de segurança parecem estar a implementar estratégias planeadas e sistemáticas, incluindo o uso intensivo de força letal”, aponta o relatório.
“Muitos dos assassínios documentados correspondem a execuções extrajudiciais”, pode ler-se no documento, acrescentando que as forças de segurança usaram balas reais contra os manifestantes, causando a morte de cerca de 60 pessoas.
À medida que os protestos generalizados contra o golpe militar continuam, a junta enfrenta um novo desafio com as forças guerrilheiras étnicas do país, que, até há pouco tempo se limitavam a fazer denúncias verbais sobre o golpe do mês passado.
Hoje, forças guerrilheiras da minoria étnica cachim — que vivem no estado mais a norte de Myanmar e região fronteiriça da China – atacaram uma base do governo, gerando confrontos entre as forças de segurança e o braço armado do movimento político cachim, o exército da independência cachim (KIA).
“Esta manhã, o KIA atacou um batalhão do conselho militar na vila de Sezin, no município de Hpakant, e foi atacado por helicóptero. Ambos os lados ainda estão a investigar” os acontecimentos, relatou a agência de notícias do estado de Cachim The 74 Media no Twitter.
Uma página do Facebook da Kachin Liberation Media disse, por sua vez, que o KIA invadiu o posto avançado do governo e apreendeu munições, alertando contra o uso de força letal para interromper protestos contra o golpe realizados na capital de Cachim, Myitkyina, onde dois manifestantes foram mortos esta semana.
As informações não puderam ser confirmadas de forma independente, sendo que tanto os exércitos de guerrilhas étnicas como o governo divulgam muitas vezes informações exageradas. No entanto, mesmo fazer tal anúncio equivale a uma forte advertência ao governo.
As ações dos cachim acontecem poucos dias depois de outra força guerrilheira étnica, pertencente à minoria carene, ter anunciado que vai proteger os manifestantes no território que controla.
A União Nacional Carene enviou combatentes armados para proteger um protesto na região de Tanintharyi, no sudeste de Myanmar.
Myanmar tem mais de 12 exércitos de guerrilha étnica, principalmente em áreas de fronteira, um legado de lutas de décadas por maior autonomia do Governo central.
Muitos têm acordos formais ou informais de cessar-fogo com o Governo, mas ainda se registam alguns confrontos armados.
O Conselho de Segurança da ONU aprovou na quarta-feira, por unanimidade, um apelo formal para que a junta militar reverta o golpe que depôs o Governo de Suu Kyi e uma condenação veemente à violência contra manifestantes pacíficos.
O Conselho de Segurança também pediu “o máximo de contenção” por parte dos militares.
Uma declaração, redigida pelo Reino Unido, foi formalmente aprovada pelos 15 membros do Conselho e pede a libertação imediata dos líderes eleitos, incluindo Suu Kyi e o Presidente Win Myint, detidos no golpe, além de referir o apoio da ONU à transição democrática do país e sublinhar “a necessidade de defender as instituições democráticas”.
Os Estados Unidos anunciaram na quarta-feira sanções contra dois filhos adultos do chefe da junta militar de Myanmar, o general Min Aung Hlaing.
Estas foram as sanções mais recentes de uma série de represálias impostas pelos EUA àquele país, desde que os militares tomaram o poder e iniciaram a repressão aos manifestantes.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, explicou a decisão afirmando que os líderes militares de Myanmar não devem conseguir “tirar benefícios do regime, uma vez que este recorre à violência e estrangula a democracia”.
Comentários