“As ansiedades resultantes de uma pandemia muito provavelmente, e naturalmente, podem de alguma forma desviar a atenção plena das causas que todos os governos têm de servir e dos valores que todos os governos devem cultivar”, entre os quais “a democracia e as liberdades são pontos cardeais”, afirma a diplomata em carta de despedida hoje divulgada, a que a Lusa teve acesso.
No posto desde julho de 2019, Craft afirma ainda que o mundo “vive tempos turbulentos” hoje, “como quase sempre tem vivido” e dos quais as próprias Nações Unidas são herdeiras.
“A liberdade e a democracia estão sempre a ser testadas. É por isso que esta organização existe. E por isso, do meu ponto de vista, foi positivo servir aqui e, fazendo-o, servir o meu país”, adianta Craft.
Antes de ser nomeada pelo secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo para número um da Missão dos Estados Unidos junto da ONU, Craft serviu durante cerca de dois anos como embaixadora no Canadá.
Até ser nomeada para os dois postos, a autointitulada ”empreendedora e mecenas” esteve ligada sobretudo ao mundo académico e empresarial e à área do marketing.
Na semana passada, a administração norte-americana anunciou a deslocação de Craft a Taiwan, acompanhada do secretário de Estado Mike Pompeo, motivando ameaças por parte da China, que não reconhece a independência do território.
Numa declaração da missão chinesa junto da ONU a 8 de janeiro, a China intimou os Estados Unidos a “pararem com a sua provocação louca, a deixarem de criar novas dificuldades para as relações sino-americanas e para a cooperação dos dois países no seio das Nações Unidas”, ameaçando que caso a visita fosse avante haveria “um preço” a pagar.
A visita, que deveria também incluir a Europa, foi cancelada uma semana antes da cerimónia de tomada posse do novo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Craft acabou por realizar na quinta-feira uma conversa virtual com a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, elogiando a gestão da pandemia de covid-19 e criticando a posição da China de impedir a ilha de fazer parte de organizações internacionais.
“Infelizmente, Taiwan não pode partilhar o seu sucesso nos fóruns da ONU, incluindo na Assembleia Mundial da Saúde, porque a RPC [República Popular da China] o impede”, escreveu Kelly Craft na rede social Twitter.
“Se a pandemia nos ensinou alguma coisa é que mais informação e transparência fazem parte da resposta”, sublinhou a embaixadora.
As suas declarações foram feitas no dia em que uma equipa da Organização Mundial da Saúde (OMS), responsável por investigar a origem do coronavírus, chegou a Wuhan, na China, região que é considerada o berço da pandemia.
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