Desconhece-se ainda o paradeiro de muitos, há minas por toda parte, as lojas e restaurantes continuam fechados, falta eletricidade e água. Explosões durante o dia e a noite são testemunho dos combates que opõem as forças russas e ucranianas que lutam do outro lado do rio Dnieper.

Apesar das dificuldades, os residentes evidenciam uma misto de alívio, otimismo e até alegria – até porque recuperaram a liberdade de se expressar.

“Até respirar ficou mais fácil. Agora tudo é diferente”, disse Olena Smoliana, uma farmacêutica cujos olhos brilhavam de felicidade ao recordar o dia em que os soldados ucranianos entraram na cidade.

A população de Kherson passou dos 300 mil residentes de antes da guerra para apenas cerca de 80 mil atualmente, mas a cidade está lentamente a ganhar vida. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, caminhou triunfalmente pelas ruas na segunda-feira, saudando a retirada da Rússia – uma derrota humilhante para o homólogo russo Vladimir Putin – como o “início do fim da guerra”.

As pessoas já não receiam sair à rua nem temem que o contacto com soldados russos possa resultar em prisão ou uma cela de tortura e os habitantes reúnem-se nas praças da cidade – enfeitados com fitas azuis e amarelas nas suas bolsas e casacos – para recarregar telefones, procurar água e conversar com vizinhos e parentes.

“Se sobrevivermos à ocupação, sobreviveremos a isso sem problemas”, disse Yulia Nenadyschuk, 53 anos, que se escondeu em casa com o marido, Oleksandr, desde o início da invasão russa, mas agora visita diariamente o centro da cidade.

“Ninguém podia dizer nada em voz alta. Não se podia falar ucraniano”, disse o marido, Oleksandr, 57 anos.

“Estávamos constantemente a ser observados. Nem se podia olhar em volta”, acrescentou.

As forças russas entraram em Kherson nos primeiros dias da guerra vindas da vizinha Crimeia, que Moscovo anexou ilegalmente em 2014, e rapidamente ocuparam a cidade, a única capital regional que os russos capturaram após o início da invasão em 24 de fevereiro.