Gósol é uma pequena vila situada no lado espanhol dos Pirenéus. Durante décadas viu a sua população fugir para as cidades. No entanto, com a pandemia mais pessoas parecem estar a ficar interessadas na vida rural e nas suas oportunidades.
O castelo de Gózol, em tempos uma imponente construção do território espanhol, está agora em ruínas. Tal como estava, até ao surgimento do covid-19, a própria vila, que em 1906 chegou a albergar o famoso artista espanhol Pablo Picasso por quase um ano.
Afinal, desde os anos 60, afirma o The New York Times, as contagens de população nos censos tinham quase sempre diminuído. Até ao ano passado, apenas 140 pessoas residiam na vila espanhola e a escola contava com somente cinco alunos inscritos.
Neste contexto, em 2015, com o censo a indiciar que apenas 120 pessoas residiam permanentemente na vila, o presidente da Câmara chegou mesmo a ir à televisão apelar a que mais pessoas se mudassem para Gósol, sob pena de a cidade desaparecer do mapa.
Rafael López, antigo empresário de energias renováveis, cujo negócio entrou em colapso na crise financeira de 2008, mostrou-se interessado por este chamamento. "A minha mãe disse que viu isto na televisão”, conta — e tal deu-lhe vontade de passar pela vila a ver que oportunidades poderiam ali surgir.
Rafael não só acabou por se mudar para Gózol ainda antes do começo da pandemia como convenceu dois amigos a irem com ele. Não obstante, se Rafael ainda permanece fiel à sua ideia rural, os dois amigos acabaram por voltar para a vida de cidade.
Em 2015 não foram muito os que responderam ao pedido de repovoação da vila, mas, com a chegada do covid-19 o paradigma parece estar a mudar.
Gabriela Calvar, 37 anos, tinha um bar numa cidade perto de Barcelona e era também assistente de bordo. Com a pandemia viu grande parte dos voos serem cancelados e foi obrigada a fechar as portas do estabelecimento.
Um dia decidiu passar pela cidade e soube que o proprietário da mercearia estava à procura de vender o negócio. Foi quando decidiu que se iria mudar definitivamente e matricular os seus dois filhos na escola, que agora já conta com 16 alunos.
Não obstante, mesmo estando o número a crescer, o facto de tão poucas crianças viverem na vila parece representar um problema a nível sociológico, explica Carla Pautas, professora na escola. "Há uma rapariga, há duas ou três delas, que se tornaram tão fechadas que é difícil relacionarem-se com outras". "É como se estivessem habituados a meses de confinamento solitário", afirma Anna Boixader, outra professora.
Também María Otero, web designer, decidiu aproveitar as vantagens do teletrabalho e mudar-se com o seu marido e três filhos para a vila espanhola – localidade onde os seus avós tinham nascido e que conhecia de verões antigos.
"Se não fosse a covid, a escola tinha fechado. E se a escola fechasse, a cidade também poderia muito bem ter fechado", explica Josep Tomás Puig, carteiro reformado de 67 anos.
"Quando eu tinha 10 anos, aqui na praça, as pessoas começaram a vender as suas casas nos anos 60, todos iam para Barcelona", recorda. "E as pessoas diziam: 'Se ficares aqui, quem sabe o que vais fazer, em breve haverá esquilos e raposas a correr por aí'". "Bem, isso ainda não aconteceu", afirma.
“La España Vacía” ou, em bom português, "a Espanha Vazia", é a frase com que este problema foi apelidado no país vizinho, já que é uma questão que não afeta apenas esta vila de Gózol.
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