
Em novembro passado, Tom Van Gaver, um dos mais reconhecidos criadores de pombos-correio na Flandres, entrou no seu pombal e percebeu de imediato que algo estava errado. A porta estava danificada e, após uma inspecção rápida, confirmou o pior: cinco dos seus pombos tinham sido roubados, conta o The Guardian.
Entre eles estava Finn, um dos seus mais valiosos reprodutores, a “Mona Lisa do mundo dos pombos”. O prejuízo estimado rondava os 750 mil euros, embora Van Gaver nunca tivesse planos de vender os animais. Câmaras de segurança registaram imagens dos ladrões a apanhar Finn e a colocá-lo dentro de um saco de plástico.
Os roubos têm-se multiplicado em várias regiões da Bélgica. Patrick Marsille, secretário-geral da Federação Real Belga de Columbofilia, estima que entre outubro e fevereiro tenham ocorrido cerca de 15 assaltos, resultando no desaparecimento de aproximadamente 500 aves. As autoridades suspeitam da ação de redes criminosas do Leste Europeu, especializadas no furto de campeões para criação e comercialização clandestina.
Criadores e centros de criação têm reforçado as medidas de segurança. O Centro de Pombos Descheemaecker, próximo de Antuérpia, instalou muros, portas trancadas, câmaras de vigilância e segurança 24 horas. Stephan Descheemaecker, cujo avô cofundou o centro em 1955, afirma conseguir reconhecer possíveis ladrões assim que entram nas instalações.
A columbofilia na Bélgica
A columbofilia tem uma longa tradição na Bélgica, sendo muitas vezes comparada às corridas de cavalos, mas acessível a um público mais amplo. O desporto alcançou o auge nos anos 1950, com mais de 200 mil praticantes.
Hoje, embora o número tenha diminuído, os preços dos pombos campeões dispararam. Em 2020, um comprador chinês pagou 1,6 milhões de euros pelo pombo belga New Kim, um recorde mundial.
O processo de seleção dos melhores pombos envolve características como a forma dos olhos, a qualidade das penas e a musculatura. No entanto, a verdadeira capacidade de orientação das aves só é confirmada em competições.
Os pombos são libertados a centenas de quilómetros de distância e o vencedor é aquele que regressa mais rapidamente ao pombal, num percurso que desafia as teorias científicas sobre a navegação das aves.
Os roubos de pombos de elite têm gerado frustração entre os criadores, sobretudo devido à falta de prioridade dada pelas autoridades ao problema. Mesmo com o aumento da criminalidade e dos desafios impostos ao desporto, muitos columbófilos mantêm-se resilientes. No final, para os apaixonados pela columbofilia, não há nada comparável à emoção de ver um pombo regressar do céu após uma corrida desafiante.
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