"Não vai chegar ao mar esta noite, como tínhamos dito", disse um porta-voz do governo regional das Canárias na tarde desta segunda numa conferência de imprensa. "O movimento lávico é bastante lento ao que era inicialmente", acrescentou.
No entanto, segundo os especialistas contactados pelo El País, esse contacto pode ocorrer nesta terça-feira, o que implica riscos acrescidos. Quando a lava quente ferve a água do mar, desencadeia uma série de reações químicas e físicas que provocam colunas de névoa ácida que pode ser tóxica.
Além disso, pode haver explosões capazes de esculpirem rochas a mais de 200 metros e ondas de altas temperaturas que entram na terra. Dados estes fenómenos, a Proteção Civil espanhola já criou durante a noite um perímetro de segurança de duas milhas náuticas em redor da zona de contacto, impedindo o acesso à zona.
A ministra do Turismo espanhola, Reyes Maroto, criou polémica ao lembrar que os hotéis estão abertos, convidando os turistas a aproximarem-se da ilha para presenciarem "o que a natureza trouxe para La Palma", declarações das quais se retratou posteriormente.
Os impressionantes rios de lava arrasaram árvores, invadiram casas e estradas, como mostram vários vídeos publicados nas redes sociais. "Esta língua de lava engole tudo que vai encontrando pelo caminho", descreveu Mariano Hernández Zapata, presidente de Cabildo de La Palma, em entrevista à Televisión Española. "É dramático ver muitos projetos de vida a desaparecer", acrescentou.
Entretanto, "cerca de 500 pessoas" tiveram de deixar as suas casas durante a noite de segunda-feira, confirmou hoje à agência de notícias AFP Lorena Hernandez Labrador, vereadora de Los Llanos de Aridane, uma localidade vizinha gravemente afetada pelos fluxos de lava.
"O aparecimento de uma nova boca eruptiva" na área de Tacande, na cidade de El Paso, levou à "retirada dos habitantes", publicou na rede social Twitter o serviço de socorro de emergência do arquipélago na noite de segunda-feira.
Um total de 6.000 pessoas já foram retiradas das suas casas desde o início da erupção do vulcão. A abertura desta boca eruptiva ocorreu após um novo terremoto com magnitude de 4,1, registado às 21:32 de segunda-feira, horário local (a mesma hora em Lisboa), de acordo com o Instituto Vulcanológico das Ilhas Canárias (Involcan).
No entanto, apesar dos danos materiais, o fenómeno continua sem vitimar pessoas. "Não temos a lamentar nenhuma perda humana ou danos pessoais. Acredito que essa é a melhor notícia", disse Ángel Torres, presidente do governo regional deste arquipélago turístico localizado na costa do noroeste da África, numa conferência de imprensa com o presidente do governo, Pedro Sánchez, que está em La Palma desde o domingo.
"Agora o mais importante é garantir a segurança" porque "o vulcão continua em atividade", alertou Sánchez. O chefe de governo adiou sua ida a Nova Iorque para participar da Assembleia Geral da ONU.
Com temperaturas de mais de 1.000°C, a lava avança a uma velocidade média de 700 metros por hora, segundo o Instituto Vulcanológico das Canárias.
O Cumbre Vieja lança colunas de fumo com várias centenas de metros de altura e entre 8.000 e 10.500 toneladas de dióxido de enxofre por dia, segundo o instituto. O fumo não provocou até o momento o encerramento do espaço aéreo.
A empresa que administra os aeroportos em Espanha (AENA) anunciou que todos os voos programados para segunda-feira no aeroporto de La Palma foram realizados e que outros 48 estavam programados para hoje.
"Três minutos"
Em apenas três minutos, Angie Chaux, uma moradora de Los Llanos de Ariadne, que vive a poucos quilómetros do vulcão, conta que teve de deixar a sua casa, à pressa, às 4h30 da madrugada, junto com o marido.
"Não estávamos em casa quando houve o alerta", explicou esta jovem de 27 anos, "mas quando vimos, quisemos voltar e a estrada estava fechada. A polícia deixou-nos passar e disse: 'Três minutos'", explicou.
Ela entrou em casa e só pôde levar a mochila de emergência que as autoridades tinha dito aos moradores para preparar.
Yahaira García teve mais sorte: conseguiu tirar roupa, a televisão, um computador e mais algumas coisas de sua casa, situada no sopé do vulcão, antes de partir.
"A minha casa vibrava imenso, parecia que ia cair", contou a mulher, que está sem dormir há duas noites. "As imagens são muito fortes. Não temos ideia de quando [vamos] voltar", acrescentou.
Situado no centro da ilha de La Palma - uma das sete que compõem o turístico arquipélago das Canárias, perto da costa do noroeste da África -, o vulcão Cumbre Vieja ficou sob estrita vigilância há uma semana, devido a uma forte reativação da sua atividade sísmica.
A erupção começou no domingo, pouco depois das 15h locais (14h00 em Lisboa)
De acordo com Ángel Víctor Torres, o vulcão Cumbre Vieja teria entre 17 e 20 milhões de metros cúbicos de lava. Por isso, a erupção continuará, alertou ele em um vídeo publicado no Twitter.
A atividade do Cumbre Vieja pode durar "várias semanas, ou poucos meses", devido à presença de uma segunda reserva de magma situada a 20 ou 30 km de profundidade, explicou o coordenador científico do Instituto Vulcanológico das Canárias, Nemesio Pérez.
De origem vulcânica, este arquipélago viveu a sua última erupção em 2011, desta vez debaixo d'água, na ilha de El Hierro, provocando a retirada de centenas de pessoas.
A lava lançada pela erupção vulcânica que começou no domingo na ilha de La Palma cobre 106 hectares de terra e destruiu 166 casas e outros edifícios.
O cálculo foi feito pelo programa de emergência por satélites da União Europeia Copernicus, que publicou hoje uma imagem tirada pelo satélite Sentinel 2 e que reflete a situação na noite de segunda-feira.
[Notícia atualizada às 09:54]
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