Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) para discutir o fornecimento de armas ocidentais à Ucrânia, Lavrov acusou os países ocidentais de pressionarem a Ucrânia a “prosseguir com um confronto militar sem sentido”, apesar de Kiev estar “obviamente em agonia” e “incapaz de atingir o objetivo de infligir uma derrota estratégica à Rússia”, que invadiu o país vizinho há quase dois anos.

Lavrov acusou particularmente Washington de estar a usar o conflito entre Moscovo e Kiev para gerar lucro para empresas norte-americanas.

O ministro russo referia-se a declarações feitas no mês passado pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que afirmou que 90% do dinheiro atribuído à ajuda ucraniana acaba por ser canalizado de volta para os Estados Unidos “em benefício das empresas americanas, das comunidades locais e do fortalecimento da base industrial de defesa dos Estados Unidos”.

Lavrov disse que altos funcionários do Governo norte-americano são “cínicos” nos seus esforços para fazer com que o Congresso concorde em financiar uma nova assistência à Ucrânia.

“Noventa por cento do orçamento militar que está a ser dado pelos Estados Unidos ao regime de Kiev permanece nos Estados Unidos e é usado para desenvolver a indústria militar do país e para atualizar o armamento norte-americano. O velho lixo está a ser usado na Ucrânia”, apontou Lavrov.

O líder da diplomacia russa argumentou também que a guerra que o seu país iniciou “não foi contra a Ucrânia e nem contra o povo ucraniano”, uma vez que os dois países “ainda estão ligados por laços fraternos”, mas sim contra um “regime criminoso, que atua com impunidade”, referindo-se ao Governo de Volodymyr Zelensky.

Lavrov assegurou que a Rússia está pronta para negociações sobre a Ucrânia, mas não sobre como manter os atuais líderes em Kiev no poder.

O ministro afirmou ainda que a fórmula de paz proposta por Zelensky “é um caminho para lugar nenhum” e “quando mais cedo” os Estados Unidos e a União Europeia “perceberem isso, melhor”.

Esta foi a décima primeira reunião convocada pela Rússia sobre a questão do fornecimento de armas ocidentais à Ucrânia desde o início da guerra, em 24 de fevereiro de 2022.

Moscovo acusa frequentemente os Governos ocidentais de travarem uma guerra por procuração na Ucrânia com o objetivo final de enfraquecer a Rússia.

Face à reunião de hoje, dezenas de países, incluindo Portugal, criticaram a “hipocrisia” da Rússia por convocar mais uma reunião do Conselho de Segurança para protestar contra o apoio ocidental a Kiev.

Num comunicado conjunto, quase 50 países, incluindo Estados Unidos, França, Reino Unido, Israel, Ucrânia, Espanha ou Portugal, salientaram que as “transferências legais de armas para a Ucrânia” são feitas em apoio ao “direito inerente de autodefesa” de Kiev, em conformidade com a Carta da ONU.

Ao longo da reunião, países como os Estados Unidos consideraram “lamentável” que a Rússia continue a convocar a repetidas reuniões sobre este tema e a usar o Conselho de Segurança “como palco para a desinformação flagrante”, negando que seja o apoio do Ocidente a prolongar esta guerra.

“É cinismo da mais alta ordem afirmar que o apoio legítimo e legal à autodefesa da Ucrânia está a prolongar a guerra. Vale a pena repetir: há centenas de milhares de soldados russos no território internacionalmente reconhecido da Ucrânia. Não há um único soldado ucraniano em solo russo”, disse o diplomata norte-americano Robert Wood.

“Nenhuma quantidade de teorias de conspiração e acusações infundadas apagam o facto de que a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia deu início a esta guerra. É a busca obstinada do Presidente (da Rússia, Vladimir) Putin pela destruição da Ucrânia e pela subjugação do seu povo que está a prolongá-la”, acrescentou.

De acordo com Wood, os “desígnios imperialistas da Rússia são óbvios” e a reunião de hoje “é mais um esforço para desviar a atenção dos seus crimes de guerra”.

“É um incendiário a culpar os bombeiros, para que possa continuar o seu crime”, comparou.

Até 31 de outubro de 2023, os aliados de Kiev tinham fornecido aproximadamente 100 mil milhões de dólares (91,8 mil milhões de euros) em ajuda militar à Ucrânia desde a invasão russa, de acordo com a plataforma Security Council Report.

Isto inclui o fornecimento de armas convencionais pesadas como tanques, veículos blindados, sistemas de artilharia e veículos aéreos de combate não tripulados, além de armas ligeiras e de pequeno calibre.

Os Estados Unidos continuam a ser o maior doador militar à Ucrânia, tendo contribuído com aproximadamente 44 mil milhões de dólares (40,4 mil milhões de euros) desde fevereiro de 2022.

No entanto, a assistência adicional norte-americana à Ucrânia foi paralisada no Congresso, com os republicanos a exigirem medidas de segurança reforçadas nas fronteiras no sul dos Estados Unidos em troca de ajuda a Kiev.