"Quanto maior é a convulsão, maiores são as oportunidades. A França é uma nação política, mesmo quando ela fala através da abstenção. Não minimizemos o nosso povo. Amanhã talvez acordem com uma maioria da NUPES na Assembleia Nacional e se não for o caso, vão ver a nossa força incrível", declarou Jean-Luc Mélenchon, perante centenas de pessoas.

O líder da esquerda francesa falava após serem conhecidos os primeiros resultados da segunda volta das eleições legislativas, indicando que a estratégia da coligação de esquerda Nova União Popular Ecologista e Social (NUPES) funcionou, retirando a maioria absoluta ao Presidente, Emmanuel Macron.

"Mesmo se o resultado ainda não está completamente decidido, o que temos é uma situação totalmente inesperada, a derrota do Presidente é total e nós atingimos o nosso objetivo que era de num mês fazer cair aquele que tinha tanta arrogância", indicou.

A questão que paira no ar agora é matemática e é saber se a esquerda terá mais votos do que as forças do Presidente, com Mélenchon a indicar que ainda pode chegar a primeiro-ministro.

"Eu quero dizer-vos que todas as possibilidades estão nas vossas mãos. Eu mudo o meu posto de combate, mas o meu compromisso continuará até ao meu último fôlego na primeira fila", sublinhou.

Quanto a possíveis entendimentos entre esquerda e as forças do Presidente, Mélenchon diz que isso nunca será possível.

"Não há qualquer diferença a ser ultrapassada entre nós e a maioria. Nós não somos do mesmo mundo, não temos os objetivos nem temos os mesmos valores", concluiu.

"É o fracasso da 'macronia', o fracasso moral daqueles que deram lições a todos", afirmou o líder da coligação de esquerda.

Mélenchon criticou ainda que, em até 52 corridas na segunda volta de hoje, Macron não tenha optado pela frente republicana e não tenha apoiado o candidato da NUPES contra a extrema-direita.

"Aqueles que deram lições da 'macronia' não foram capazes de dar uma instrução clara em 52 casos, o que agora os desqualifica para dar lições a alguém", argumentou.

Mélenchon lamentou, por outro lado, a elevada taxa de abstenção, que deverá superar os 54%.

"A França expressou-se e, há que dizê-lo, de forma insuficiente. O nível de abstenção é ainda demasiado elevado, o que significa que uma grande parte da França não sabe para onde se virar, tanto assim que os três blocos estão a níveis semelhantes", comentou.

Na sala de espetáculo Elysée havia hoje ao início da noite centenas de pessoas, mas no exterior, no 18.º bairro, milhares de pessoas vieram festejar a derrota de Emmanuel Macron e o reforço da esquerda.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, perdeu a maioria absoluta no parlamento, indicam as primeiras projeções, que também apontam para uma forte subida da extrema-direita.

Caso se confirmem estes resultados, significam um importante revés para o Presidente francês, que será forçado a procurar alianças para aplicar o seu programa de reformas nos próximos cinco anos.

Segundo as primeiras projeções, a coligação Ensemble! (Juntos!) do Presidente obterá entre 200 e 260 lugares, muito longe da maioria absoluta de 289 deputados (num total de 557) na Assembleia nacional.

Já a aliança de esquerda NUPES, liderada por Jean-Luc Mélenchon, situa-se entre 150 e 200 deputados, tornando-se no primeiro grupo da oposição no Parlamento, segundo as projeções.

O partido de extrema-direita Rassemblement National (União Nacional, RN), de Marine Le Pen, garante entre 60 e 100 deputados segundo as mesmas fontes, o que representa um considerável reforço do seu grupo parlamentar.