Há dois anos, na estreia do partido em legislativas, a Iniciativa Liberal conseguiu entrar na Assembleia da República com um deputado único, mas agora, nas eleições antecipadas de 30 de janeiro do próximo ano, a ambição é maior.

Em entrevista à agência Lusa, João Cotrim Figueiredo assume que as perspetivas do partido nas legislativas são as de deixar a condição de deputado único, aumentar o número de eleitos e “passar a ter um grupo parlamentar”.

“Por ordem de facilidade ou de expectativa, temos Lisboa, Porto, Braga, Setúbal e Aveiro. Todos eles círculos onde podemos eleger, mas por esta ordem de facilidade de eleição”, elenca.

O sucesso eleitoral, segundo o líder da IL, vai depender da capacidade de o partido “transmitir às pessoas porque é que o voto na Iniciativa Liberal é um voto útil”.

“Eu atrevo-me a dizer mais: o voto mais útil que se pode ter para quem queira de facto uma alternância em relação ao poder socialista dos últimos 26 anos com poucos intervalos é a Iniciativa Liberal, o voto mais útil é o voto na Iniciativa Liberal. E porquê? Para já porque é verdadeiramente uma alternativa”, argumenta.

Mais do que um partido político, de acordo com João Cotrim Figueiredo, a Iniciativa Liberal “é um projeto cultural também no sentido em que não quer só mudar as políticas”, mas também “a forma como elas são não só decididas como aplicadas”.

“Quem quiser ter uma alternativa ao socialismo vota na Iniciativa Liberal porque sabe que - já temos provas disso quer no parlamento nacional quer na Assembleia Legislativa Regional dos Açores - um deputado faz a diferença, imaginem mais deputados. Não fazemos política antiga”, promete.

É precisamente quando a entrevista chega à possibilidade de crise nos Açores também devido ao orçamento que o presidente da Iniciativa Liberal aproveita para um apelo direto ao voto, assumindo que nesta altura já se diverte “um bocadinho com os malabarismos e as acrobacias do Chega”, partido onde “acontece tudo e o seu contrário no espaço de 24 horas”.

“Dirijo-me diretamente aos eleitores do Chega, que têm certamente bons motivos para estarem insatisfeitos com alguma coisa que se passa em Portugal - muitas delas provavelmente serão as mesmas com as quais nós estamos insatisfeitos -, mas que já perceberam que não é votando no Chega que vão resolver o problema”, apela.

Por oposição à utilidade do voto nos liberais, na perspetiva do seu presidente, o voto no partido de André Ventura “é crescentemente visto como um voto inútil porque não vai servir para construir alternativas” e, mesmo que servisse, iria ser um fator de instabilidade dessas mesmas alternativas.

Já em relação à crise no CDS-PP e sobre a possibilidade de a Iniciativa Liberal acolher como seus membros descontentes centristas, Cotrim Figueiredo adianta que “há um acréscimo grande de inscrições no partido” nos últimos meses, mas que “não vêm de nenhuma proveniência particular”.

“Se havia pessoas do CDS que já se aproximavam de nós, continuaram mais ou menos ao mesmo ritmo. Pessoas do CDS que vão acabar por votar em nós, aí isso não tenho dúvida, já o fizeram no passado, vão certamente fazê-lo no futuro e cada um saberá ler a situação atual do CDS e sentir se se revê ainda, se não se revê, se deixou de rever, se percebeu que era mais liberal do que o CDS alguma vez pode vir a ser e portanto que a Iniciativa Liberal os representa melhor do que o CDS o poderá fazer”, atira, num piscar de olhos também aos centristas.

Conversar com Rangel seria "mais simples" porque é "mais liberalizante" que Rio

"As políticas de Paulo Rangel - ele não gosta que eu lhe chame liberal - parecem-me mais liberalizantes. Do ponto de vista do início de conversa, parece-me mais simples", reconheceu João Cotrim de Figueiredo.

O deputado liberal não deixou, porém, de manifestar "alguma simpatia pela postura austera e séria" de Rui Rio, embora considerando que nem sempre o tem conseguido demonstrar.

Mais do que protagonistas, para o líder da IL, é necessário "analisar a qualidade das propostas" e, ao mesmo tempo, "a credibilidade de as querer levar avante".

"Qualquer das grandes reformas que Portugal precisa de fazer, não se fará sem dor, não se fará sem um período de transição difícil. E portanto a coragem política e a capacidade de aguentar essa transição é absolutamente crucial para quem queira reformar efetivamente o país", avisou.

Cotrim de Figueiredo disponibilizou-se para se sentar com o futuro líder do PSD - Rio ou Rangel - sobre um entendimento de Governo, excluindo apenas o PS e os partidos à sua esquerda, bem como o Chega, mas alertou que chegar a um acordo depende, por um lado, "da sintonia de ideias com reflexos no programa" do executivo e, por outro, do peso eleitoral.

"Quero ver se à minha frente está alguém com coragem para aguentar aquilo que nunca será um período de transição fácil, fosse qual fosse a reforma que estivéssemos a tratar", enfatizou.

O deputado liberal reiterou que só está disponível para acordos pós-eleitorais e, mesmo assim, dependendo do resultado eleitoral.

"Vamos ter um bom resultado no dia 30 de janeiro. Com esse resultado vamos sentar-nos à mesa, esperemos que haja possibilidade de construir uma alternativa ao Partido Socialista, e em função da força que tivermos e do que estiver em cima da mesa, logo veremos o que isso significa em termos de entendimentos políticos. Mas uma coisa nunca faremos: é pôr exigências de cargos antes de sabermos sequer de é que estamos a falar", assegurou.

Cotrim de Figueiredo, que ainda não pensou em que pasta gostaria de ocupar se fosse para o Governo, considerou "bastante diferente ter 4% ou ter 8%" nas legislativas antecipadas de 30 de janeiro

"Só podemos sentar-nos a uma mesa de negociações com a noção do peso eleitoral que temos", concluiu

Cotrim de Figueiredo alerta para PS “ainda mais perigoso” com maioria absoluta

O deputado liberal considera que não foi a geringonça, criada em 2015, a maior “alteração estrutural do espetro partidário português”, mas sim o que aconteceu em 2019, “com o aparecimento de novos partidos, que acaba por fazer à direita aquilo que já tinha sido feito à esquerda”.

“Portanto, maturidade exige-se. Exige-se maturidade aos responsáveis políticos, exige-se maturidade ao eleitorado que vai responder a perguntas mais difíceis do que aquelas que respondia no passado. Não é só escolher um ou outro”, considera.

Dar sinais de maturidade sim, mas não de “cinzentismo ou de prudência”, pede Cotrim Figueiredo, defendendo que a democracia portuguesa tem de “ser capaz de enfrentar problemas novos, com geometrias partidárias novas e saber encontrar confluência, capacidade de negociar e de comprometer entre forças políticas”.

“Uma democracia menos madura, mais populista vota em pessoas, uma democracia mais madura vota em ideias”, compara.

Ideias e visão estratégia é algo que, segundo o presidente liberal, falta ao PS, o que o conduziu “a forçar uma crise” em relação ao Orçamento do Estado para 2022, admitindo que ainda hoje não sabe “se isto não foi essencialmente propositado”.

“Vai-se para eleições antecipadas em que o PS envergonhadamente pede uma maioria estável e reforçada. Pede uma maioria absoluta e eu apelo aos portugueses para que tenham uma noção de que se o PS já tentou a hegemonia do Estado que tentou com uma maioria relativa, imaginem o que faria com uma maioria absoluta”, avisa.

Cotrim Figueiredo pede aos portugueses que não caiam nos “cantos de sereia do primeiro-ministro”, António Costa, cuja letra da “cantiga” diz: “somos confiáveis, há muitos pesos e contrapesos nas instituições portuguesas”.

“O PS é muito perigoso sem maioria absoluta, é ainda mais perigoso com maioria absoluta do ponto de vista do controlo do aparelho de Estado”, alerta.

Rejeitando comparações com a maioria absoluta de José Sócrates – “a Iniciativa Liberal compara pouco pessoas”, garante -, o deputado enfatiza que “qualquer maioria absoluta tem uma tentação tremenda de deixar de dialogar”, mas esse nem é o ponto principal porque “o papel de uma oposição é tornar-se de tal forma audível que obriga que haja conversa mesmo que não haja negociação”.

“Com uma maioria relativa o PS conseguiu alterar a forma de nomeação das CCDR, conseguiu colocar pessoas da sua confiança em coisas tão importantes como o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, conseguiu não remodelar governos quando isso era evidentemente necessário quer no caso da ministra da Justiça quer no caso do ministro Administração Interna, conseguiu fazer orelhas moucas a essas situações mais ou menos óbvias. Imaginem com maioria absoluta o grau de insensibilidade que o PS poderá demonstrar”, exemplifica.

A Iniciativa Liberal vai realizar a VI Convenção Nacional da Iniciativa Liberal, na qual será eleita a comissão executiva, nos dias 11 e 12 de dezembro, em Lisboa, e até ao momento João Cotrim de Figueiredo é o único candidato.

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