As obras foram doadas por Joan Punyet Miró, neto do artista, à Cruz Vermelha, para ajudar os refugiados, e resultaram em 47 563 libras (61 689 euros). O neto do pintor catalão disse à AFP que fez esta doação porque é isso que o avô desejaria. "Considero-me um transmissor da sua vontade e acredito que isto é o que ele faria se estivesse vivo", declarou sobre Miró, que morreu em 1983 aos 90 anos.
"Miró era um homem que passou muitas dificuldades ao longo da vida. Passou fome, viveu a Guerra Civil Espanhola e o exílio durante a II Guerra Mundial, soube por Pablo Neruda do drama do barco 'Winnipeg' e também conheceu o drama dos campos de refugiados", relatou Joan Punyet. O neto de Miró refere-se ao navio "Winnipeg" que o poeta chileno fretou para transportar 2.000 refugiados espanhóis que deixaram o país por medo de represálias após a vitória de Francisco Franco na Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
Miró, simpatizante republicano, estava em França no início do conflito espanhol e decidiu ficar em Paris. A mulher e a filha juntaram-se a ele e viveram em França até 1940, quando a invasão nazi o levou de volta a Espanha. "A sua vontade sempre foi a de ajudar os desfavorecidos, os refugiados e exilados, e o que está a acontecer hoje na Síria pode acontecer amanhã em Espanha", disse Punyet.
O leilão superou os 50.000 euros calculados pela Galeria de arte Mayoral de Barcelona, que expôs as obras em vários lugares antes da venda em Londres.
Desde o início da guerra civil na Síria, em 2011, mais de 4,8 milhões de refugiados fugiram do país. Além disso, há outra história que liga Miró à Cruz Vermelha, envolvendo um médico da organização que salvou a perna da sua única filha após um grave acidente de carro. "Em 31 de dezembro de 1965, um comboio colidiu com o carro em que viajavam a minha avó e a minha mãe quando passavam por uma passagem de nível em Montroig del Camp", em Tarragona, contou o neto do pintor. A mãe de Punyet ficou gravemente ferida e os médicos aconselharam que a perna fosse amputada abaixo da cintura. "Então apareceu um jovem médico chamado Rafel Orozco, que era da Cruz Vermelha", recordou Punyet, e que aconselhou "um tratamento aberto, sem gesso, nem ligaduras, nem nada", baseando-se numa terapia promovida pelo médico catalão Josep Trueta, que tinha tratado feridos de guerra durante o conflito espanhol. Depois de um ano na cama, ela se recuperou. "O meu avô fez uma tapeçaria para a Cruz Vermelha, em agradecimento, porque tinham salvado a filha, que era apenas uma criança."
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