
Durante duas décadas, o surfista norte-americano Rj LaMendola encontrou tranquilidade ao deslizar sobre as ondas do Pacífico. Contudo, no mês passado, a sua rotina foi brutalmente interrompida ao ser atacado por um leão-marinho ao largo da costa sul da Califórnia, conta a BBC.
“O animal parecia possuído”, escreveu LaMendola num testemunho publicado no Facebook, descrevendo o leão-marinho como uma criatura “selvagem, quase demoníaca”. O surfista foi mordido e arrastado para fora da prancha, numa situação que descreve como um verdadeiro pesadelo. Os ferimentos obrigaram-no a deslocar-se ao hospital.
Mais tarde, veio a saber que o leão-marinho em questão sofria de intoxicação por ácido domóico – uma toxina neurológica causada por florescimentos de algas nocivos, um fenómeno que se tem repetido anualmente ao longo dos últimos quatro anos na costa californiana. Este ano, o fenómeno surgiu mais cedo do que o habitual e já afeta cerca de 600 quilómetros da costa, pondo em risco não só a vida marinha, como também a segurança dos banhistas.
Outro incidente, ocorrido a sul do local onde LaMendola foi atacado, envolveu Phoebe Beltran, uma adolescente de 15 anos que realizava uma prova de natação em Long Beach com o intuito de se tornar nadadora-salvadora. Foi mordida várias vezes por um leão-marinho, descrevendo a dor intensa e o choque do momento: “Estava tão assustada, em estado de choque, mas sentia aquela dor nos braços, uma e outra vez”, relatou à comunicação social local.
Estes episódios consecutivos têm gerado crescente apreensão entre os frequentadores das praias californianas. Embora os ataques de leões-marinhos a humanos sejam raros, os especialistas alertam que o número de animais afetados por esta toxina está a aumentar.
Segundo John Warner, diretor-executivo do Marine Mammal Care Center, localizado em Los Angeles – entidade responsável pelo tratamento de animais marinhos intoxicados – os leões-marinhos não são, por natureza, agressivos. “Estes comportamentos são reações ao estado de saúde. Estão desorientados, muitos têm convulsões e os sentidos não funcionam normalmente. Atuam por medo”, explicou.
O ácido domóico acumula-se em peixes pequenos, como sardinhas e anchovas, que são consumidos em grande quantidade por predadores marinhos como golfinhos, focas e leões-marinhos. A exposição à toxina provoca graves problemas neurológicos, incluindo desorientação, convulsões e um comportamento característico no qual os animais inclinam a cabeça de forma anormal.
Entre 20 de fevereiro e o final de março, o centro de reabilitação acolheu pelo menos 195 leões-marinhos – um número muito superior aos 50 registados no mesmo período do ano anterior. Apesar dos esforços, os recursos começam a escassear. O tratamento inclui medicação anticonvulsiva, sedação e alimentação forçada por sonda, duas vezes ao dia.
Este ano, o processo de recuperação tem sido mais lento: há animais que continuam letárgicos mesmo após cinco semanas de cuidados. Quando não recuperam a capacidade de se alimentar ou permanecem agressivos, a eutanásia torna-se a única opção viável. “Se continuam sem procurar alimento ou se mantêm agressivos, é sinal de que o cérebro não está a funcionar como devia”, lamentou Warner.
Enquanto isso, as autoridades pedem aos banhistas que mantenham uma distância mínima de 15 metros dos animais encalhados e que não tentem intervir. “Continuam a ser os mesmos carismáticos e adoráveis companheiros da costa. Mas nunca devemos esquecer: são animais selvagens, e podem ser imprevisíveis mesmo em condições normais”.
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