Em janeiro deste ano, Pedro Leal, aluno de gestão na Nova School of Business and Economics, foi estudar um semestre para fora, para a Tailândia. Lá, em conversa com uma amiga portuguesa, apercebeu-se que esta, sabendo que o Presidente da República é Marcelo Rebelo de Sousa e que o primeiro-ministro é António Costa, não sabia dizer se Costa pertencia ao Partido Socialista ou ao Partido Social Democrata.

“Isto fez-me pensar no quão alheados tantos jovens, e não só, estão da política e nas elevadas taxas de abstenção. Pessoas que considero inteligentes e cultas, mas que estão completamente desligadas”, diz o jovem de 22 anos ao SAPO24.

Quando voltou a Portugal, Pedro tinha um mês de férias por preencher e, ele, alguém que nunca tinha lido um programa eleitoral na vida, perguntou-se: “será que é possível resumir os programas eleitorais e fazer alguma coisa com isto?”.

É aqui que entra na equação Francisco Campaniço, estudante de Mestrado em Engenharia Informática e de Computadores no Instituto Superior Técnico, amigo de Pedro desde o oitavo ano do terceiro ciclo do ensino básico.

“Basicamente, isto começou com uma conversa entre nós, não sabíamos bem se ia ser exequível ou não porque nunca tínhamos lido um programa eleitoral na vida, não sabíamos o quão extenso seria de ler e reler”, explica o estudante de gestão.

É assim que nasce o projeto Legislativas 2019. Sob o lema “Informa-te”, os dois alunos do ensino superior leram os programas eleitorais de nove partidos diferentes e resumiram por temas as propostas que consideraram ser mais relevantes com o objetivo de combater a abstenção e promover o voto informado.

“Procurámos ser o mais imparciais e objetivos possível, tentando para cada partido selecionar as propostas que nos pareceram mais concretas e significativas. Contudo, é claro que é praticamente impossível ser 100% objetivo num projeto desta natureza, e que nos podemos ter esquecido de incluir certas propostas ou medidas que outras pessoas considerem importantes”, sublinham os jovens no texto introdutório do projeto.

A (difícil) arte de ler um programa eleitoral

Ler um programa eleitoral de um partido deveria ser fácil e estar ao alcance de todos. Mas não não é. Diz Pedro Leal que, se o objetivo dos partidos é que “as pessoas queiram ler os programas, e que eles sejam de fácil leitura e interpretação, isso não está a acontecer”.

“Confesso que foi um pouco duro ler todos os programas eleitorais. No geral não é uma tarefa muito interessante ou simpática. Fiquei com a ideia de que quase todos, para além de serem muito extensos, são muito vagos, têm muita palha”, salienta Pedro.

O estudante da Nova SBE diz acreditar que, atualmente, e pela forma como são feitos, os programas eleitorais são a última das coisas que levam uma pessoa a escolher um partido em que votar, acreditando que a opinião de um eleitor é formada ao longo de quatro anos de legislatura pelas notícias, debates e redes sociais.

“Ao ler os programas eleitorais senti-me numa minoria das minorias que se deu a esse trabalho e consigo perceber bem porquê, eles não são de todos apelativos”, confessa.

Até agora, o projeto já teve cerca de 25 mil visitantes e à volta de 100 mil visualizações com a maioria dos leitores a terem entre 18 e 34 anos.

Em declarações ao site do Instituto Superior Técnico de Lisboa, Francisco diz que as opiniões que têm recebido têm sido “esmagadoramente positivas”.

"Este site é a prova de que há jovens mais e outros menos distanciados da política e que se queremos aproximar mais as pessoas da política e reduzir a abstenção, é preciso promover iniciativas e adotar medidas concretas para que as pessoas sintam que vale a pena informarem-se e votar”, salienta o aluno de Engenharia Informática e de Computadores.