A saída de Damiba fora exigida na capital, Ouagadougou, por centenas de manifestantes que se pronunciaram a favor da chegada do poder do capitão Ibrahim Traoré, que se autoproclamou novo líder da Junta Militar.

Após a mediação entre os dois rivais, conseguida por líderes religiosos e comunitários, “o próprio Presidente Paul-Henri Sandaogo Damiba propôs a sua renúncia, para evitar confrontos com graves consequências humanas e materiais”, pode ler-se num comunicado de imprensa assinada por várias figuras relevantes do Burkina-Faso.

Em Ouagadougou, a tensão tem sido elevada, desde que soldados liderados por Traoré anunciaram a deposição da Junta Militar, mas Damiba começou por recusar apresentar a sua renúncia.

No sábado, Damiba pediu aos autores do golpe de Estado para “evitar uma guerra fratricida, de que o Burkina Faso não precisa”, alegando os problemas associados a atos de violência ‘jihadista’ que assola o país desde 2015.

Num comunicado de imprensa hoje divulgado pelos militares pró-Traoré, informa-se que o capitão passa, desde este dia, a ser “responsável pelo tratamento dos assuntos atuais, até à tomada de posse do Presidente que venha a ser designado pelas forças vivas da nação”.

O comunicado não indica a data para essas eleições.

Num discurso proferido perante cerca de 30 diretores de diversos ministérios, Traoré pediu desculpas pelo incómodo provocado em Ouagadougou pelos soldados por si liderados, nas últimas horas.

“Aconteceu porque algumas coisas não estavam a funcionar bem”, explicou o novo líder da Junta Militar.

Algumas dezenas de manifestantes apoiando Ibrahim Traoré reuniram-se no exterior da Embaixada francesa em Ouagadougou, incendiando barreiras de proteção e atirando pedras para dentro do edifício diplomático, onde se posicionavam militares franceses.

Num comunicado de imprensa lido por um dos seus familiares, Traoré, que estava ao seu lado, pediu aos manifestantes para que evitem “qualquer acto de violência e vandalismo (…) contra a Embaixada francesa ou contra a base militar francesa” em Ouagadougou.

Esta reação popular deve-se ao facto de muitos manifestantes pedirem a saída de Damiba, mas também o fim da presença militar francesa no Sahel, bem como da cooperação militar com a Rússia.

A influência de Moscovo tem crescido em vários países africanos de língua francesa nos últimos anos, particularmente no Mali e na República Centro-Africana.

O tenente-coronel Damiba, agora oficialmente deposto, também chegou ao poder, em janeiro, num golpe de Estado que derrubou o Presidente Roch Marc Christian Kaboré, acusado de ineficácia no combate à violência ‘jihadista’.