Na quarta-feira, o Tribunal Municipal de Phnom Penh considerou Rainsy culpado de tentar “entregar a um estado estrangeiro todo ou parte do território nacional”, tendo ainda proibido o ativista de participar na vida política, nomeadamente de concorrer a eleições.

As próximas eleições estão agendadas para julho de 2023 e o primeiro-ministro Hun Sen, um dos líderes mais antigos no mundo, que está no poder há 37 anos, vai concorrer para outro mandato.

O advogado de Rainsy, Yong Phanith, disse à agência Associated Press que a condenação está ligada a uma suposta promessa, feita pelo opositor em 2013, de entregar território a uma minoria de tribos indígenas se chegasse ao poder.

O caso começou em 2018, quando foi publicado na rede social Facebook um vídeo de uma reunião, nos Estados Unidos, em 2013, entre Sam Rainsy e Kok Ksor, um líder da tribo indígena Jarai, que morreu em 2019.

Kok Ksor liderava a Fundação Montagnard, uma organização sediada nos EUA que defende os interesses das minorias de tribos indígenas que vivem nas montanhas do centro do Vietname e do nordeste do Camboja.

Sam Rainsy defendeu que o vídeo apenas mostra que o ativista apoia os direitos de autodeterminação de minorias, não tendo prometido às tribos indígenas que poderiam estabelecer um estado separado.

A questão da perda de território nacional é controversa no Camboja.

Políticos da oposição muitas vezes acusaram o governo de Hun Sen de permitir que terras fossem anexadas pelo vizinho Vietname, alegações que levaram a várias condenações por difamação.

Rainsy, co-fundador do Partido da Salvação Nacional do Camboja, tem sido o crítico mais severo e o oponente mais popular de Hun Sen.

Na segunda-feira, num discurso numa cerimónia de graduação de uma universidade, Hun Sen disse que a família de Sam Rainsy era composta por três gerações de traidores.

No domingo, Rainsy, que também tem cidadania francesa e vive em França desde 2015, tinha colocado um vídeo no Facebook renovando o pedido de oposição popular ao governo de Hun Sen.

Na semana passada, um tribunal francês absolveu Sam Rainsy de difamação contra o primeiro-ministro, tendo considerando que, embora não houvesse provas que Hun Sen seja responsável pela morte de um ex-chefe da polícia nacional, o assunto poderia ser alvo de debate por ser de interesse público e significado político.

Em março, Rainsy tinha sido condenado a 10 anos de prisão por um tribunal do Camboja, sob a acusação de tentar derrubar o primeiro-ministro. No ano passado, o opositor já tinha sido condenado a 25 anos de prisão no mesmo caso.

Em 2019, Rainsy tentou, em vão, regressar ao país, uma iniciativa considerada como “uma tentativa de golpe de Estado” pelas autoridades.