Fontes da direção da bancada salientaram que Hugo Soares, que apoiou Pedro Santana Lopes nas eleições diretas, sempre afirmou que conversaria com o novo presidente, independentemente de quem fosse, o que deverá acontecer nas próximas duas semanas.
Em entrevista à Antena 1 no início de dezembro, questionado se as eleições internas poderiam ter implicações na direção da bancada, Hugo Soares sublinhou que o seu mandato é de dois anos e que “quem elege a liderança do grupo parlamentar são os deputados”.
No entanto, na mesma entrevista, acrescentou que não há lideranças parlamentares contra “a vontade determinada do presidente do partido”, sobretudo se as linhas de orientação da futura comissão política forem “completamente antagónicas” com as da direção da bancada.
No sábado à noite, em declarações à TSF, o antigo secretário de Estado José Eduardo Martins lançou o nome de António Leitão Amaro como uma hipótese para vir a liderar o grupo parlamentar do PSD.
Contactado pela Lusa, Leitão Amaro – um dos dois ‘vices’ da bancada que apoiou Rui Rio, a par de Adão Silva – escusou-se a fazer qualquer comentário, uma vez que se encontra desde sábado na zona de Tondela afetada pelo incêndio que causou oito mortos e apontou como prioridade neste momento o “apoio à população”.
Do lado dos vice-presidentes da bancada que apoiaram Santana Lopes (sete em 12), dois deles, Sérgio Azevedo e Amadeu Albergaria, colocaram, através da rede social Facebook, o seu lugar à disposição do presidente do grupo parlamentar.
"Como é evidente, saber perder é saber tirar consequências", justificou Sérgio Azevedo.
Em defesa da continuidade de Hugo Soares, saíram os deputados e antigos ministros Paula Teixeira da Cruz e Carlos Costa Neves.
“A bancada parlamentar tem legitimidade própria, o líder parlamentar é eleito entre os seus pares e o atual líder parlamentar acabou de ser eleito com uma percentagem expressiva e por isso tem toda a legitimidade para continuar”, defendeu Teixeira da Cruz, em declarações à Lusa.
Para a ex-ministra da Justiça, que não apoiou qualquer dos candidatos à presidência do partido, seria até “muito estranha” a substituição de Hugo Soares, defendendo que o seu desempenho à frente da bancada lhe confere legitimidade política para continuar.
Carlos Costa Neves, ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus e antigo líder do PSD-Açores, aconselhou o presidente eleito a tratar a questão da direção da bancada com “algum cuidado” e “muita serenidade”.
“O grande desígnio de quem ganha é reunir, no sentido de tornar a unir, e um dos elementos centrais é o grupo parlamentar, que está na frente do combate político”, afirmou Costa Neves, que apoiou Santana Lopes na disputa interna.
O deputado sublinhou que, além da direção da bancada, o grupo parlamentar já tem uma estrutura montada de coordenadores em todas as comissões, e que “seria bom não pôr em causa” uma direção eleita há cerca de seis meses.
“Mas, seja qual for a solução, deve-se considerar a vontade do grupo parlamentar, a quem não se dá simplesmente ordens que em vez deste [líder parlamentar] será aquele”, alertou.
Hugo Soares foi eleito em 19 de julho do ano passado, para um mandato de dois anos, com 85,4% de votos, correspondentes a 76 votos favoráveis, 12 votos brancos e um nulo, sucedendo no cargo a Luís Montenegro, que atingiu o limite de três mandatos consecutivos.
Depois do anúncio de Passos Coelho de não se recandidatar à presidência do partido, em outubro passado, Hugo Soares tem assumido o protagonismo pelo PSD nos debates quinzenais com o primeiro-ministro, António Costa.
Rui Rio venceu no sábado as eleições diretas e será o 18.º presidente do partido: segundo os resultados provisórios, Rio, com 22.611 votos e 54,37%, ganhou com uma vantagem de 3.617 votos sobre Santana, que recolheu 18.974 (45,63%).
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