“Eu admiro a coragem do povo iraniano contra a ditadura que oprime as pessoas através do extremismo religioso. Apoio-os, mas olhando para o meu país não encontro respostas para o facto do apoio à luta pela liberdade e pela vida não ser igual”, questiona Ghafari, distinguida hoje com o Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa.
“Porque é que a luta pelo pão, pela educação, pela vida e pela dignidade não é respeitada da mesma forma e ouvida da mesma maneira como a luta pela liberdade de escolha de ter um pano na cabeça ou não ter um pano na cabeça. Esta é uma grande questão que coloco a mim mesma e não tenho resposta” disse à Lusa Zarifa Ghafari, questionada sobre as revoltas que eclodiram no Irão após a morte da jovem Mahsa Amini.
Ghafari, refugiada na Alemanha após a tomada de Cabul pelas forças talibãs, em agosto do ano passado, foi presidente da Câmara da cidade de Maidan Shahr, província de Wardak uma das 34 regiões administrativas do Afeganistão.
“No meu país, nós gritamos para termos escolas, comida, segurança, humanidade e dignidade. No Afeganistão, as mulheres manifestam-se frente aos talibãs, um grupo terrorista que derrotou quarenta países de todo o mundo, demonstrando coragem, mas o mundo não nos apoia da mesma forma como apoia a luta no Irão”, lamenta.
Ghafari diz que as mulheres iranianas têm, atualmente, o apoio de políticos e da comunicação social de todo o mundo e queixa-se que quando os talibãs bloquearam os acessos à internet no Afeganistão, em agosto de 2021, as mulheres também se manifestaram “sem medo”.
“Gente como Elon Musk ouviu essas vozes e deu-nos os meios para estarmos em contacto com o mundo?”, pergunta criticando o empresário norte-americano de telecomunicações (Space X) de origem sul-africana.
“No Irão, quando anunciaram recentemente o bloqueio à internet ele (Elon Musk) anunciou que ia pôr os satélites à disposição do povo iraniano. Porque não o fez no Afeganistão? O meu sangue é diferente dos outros? Gostava de ouvir qual é a resposta dos políticos mundiais sobre isto e também de Elon Musk”, acrescenta a política afegã.
Ghafari foi distinguia hoje pelo Conselho da Europa que lhe atribuiu o Prémio Norte-Sul “pelas iniciativas na defesa dos direitos das mulheres no Afeganistão e pelo exemplo que constitui a nível internacional na defesa do direito à educação e democracia participativa”.
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