António Nunes disse à agência Lusa que, desta forma, as janelas de oportunidade que aparecem para debelar os fogos poderão ser mais bem aproveitadas, “sem se perder tempo a aguardar decisões das diversas entidades que intervêm no combate ao fogo”.
“Os bombeiros têm que ter um comando nacional de bombeiros, que tem de ser responsabilizado por tudo o que é combate a incêndios, sejam urbanos, florestais, rurais ou em indústria, para se saber quem são os responsáveis. E, depois, deixar à proteção civil um patamar superior, que é o da coordenação”, defendeu António Nunes.
No caso do incêndio na Serra da Estrela, o presidente da LBP insistiu que “o foco dos bombeiros seria fazer o combate ao incêndio e deviam ser eles a decidir tudo. Não podemos querer utilizar uma máquina de rasto e, para isso, [ser necessário] ter o parecer do ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e Florestas]”.
“Depois, as pequenas janelas de oportunidade que existem, que duram uma hora ou duas horas, como uma rodagem de vento, uma humidade relativa mais alta, e que são a oportunidade de utilização do meio aéreo perde-se e quando se perde ardem mais dois, três ou quatro mil hectares”, sublinhou.
António Nunes disse que Portugal não tem tido um elevado numero de incêndios, mas salientou que o numero de grandes incêndios é maior, insistindo: “O que é que isto quer dizer? Que não temos respondido adequadamente e que, portanto, temos de apurar responsabilidades e, neste momento, a responsabilidade é da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, porque não adequou o dispositivo às condições climáticas que eram expectáveis”.
“Se temos menos incêndios é porque temos mais capacidade de ataque, se eles estão a escapar é porque a gestão do fogo não está a ser bem feita”, acrescentou.
António Nunes defende ainda que a técnica de combate inicial do incêndio “não pode ser a mesma de há dois ou três anos atrás, porque as alterações climáticas obrigam a uma maior intervenção, mais musculada, no primeiro ataque”.
“Se ele [o fogo] escapa à primeira hora, temos situações como esta”, disse, referindo-se ao incêndio que lavra desde sábado na Serra da Estrela e que, segundo o sistema europeu de observação da Terra Copernicus já terá queimado cerca de 10.000 hectares.
O presidente da LBP considerou que a estrutura de comando não está organizada e insistiu que “não e fácil gerir 1.500 homens ao mesmo tempo”.
“Há muitas ineficiências que devem estar a acontecer e os autarcas estão a protestar, e bem. Nem o exército mobiliza 1.500 homens com uma estrutura como esta, que não está organizada”, afirmou.
António Nunes defendeu ainda que “cada entidade deve estar focada no que deve fazer” e que o ICNF não se deve focar no combate: “Esqueçam importar coisas que vêm dos EUA, ou do Canadá, ou do Chile. O nosso tipo de floresta não é igual. O nosso povoamento e a dispersão das casas pela floresta não é igual”.
“Nós não nos podemos dar ao luxo de perder 1.000 ou 2.000 hectares, como se pode fazer nos EUA que, quando tem um fogo grande, ardem 50.000 ou 60.000 hectares isso é praticamente o que arde aqui num ano”, considera.
O responsável da LBP apontou a falta de aceiros e de caminhos na Serra da Estrela e disse que “o ICNF devia ser responsabilizado por tudo o que é a preparação da floresta e dos espaços rurais para o incêndio, a GNR pela vigilância e os bombeiros pelo combate”.
António Nunes reconheceu que Portugal, desde 2017, “melhorou muito” na avaliação de risco e mobilizou bem as populações, que o Governo esteve bem nos meios dados para combate aos incêndios, mas sublinha que “a técnica e a metodologia não é a melhor”.
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