“Vamos ser penalizados com os horários loucos de cargas e descargas”, disse Catarina Portas, comerciante da zona da Baixa-Chiado, durante uma sessão pública na freguesia de Santa Maria Maior sobre a proposta da Câmara de Lisboa para a ZER Avenida-Baixa-Chiado, que a autarquia apresentou no final de janeiro.

De acordo com a proposta da Câmara de Lisboa, o trânsito automóvel na zona da Baixa-Chiado (que abrange a freguesia de Santa Maria Maior) passará a ser exclusivo para residentes, portadores de dístico e veículos autorizados, entre as 06:30 e as 00:00, a partir do verão.

As cargas e descargas, dentro desta ZER, a partir de 01 de junho de 2020, estão autorizadas apenas no período entre as 00:00 e as 06:30, nas bolsas existentes para o efeito.

Catarina Portas foi uma das comerciantes da Baixa-Chiado que questionaram o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina (PS), durante a sessão pública que se prolongou por quatro horas, pedindo que a autarquia proponha “uma coisa com mais bom senso e sensibilidade para com todos os agentes comerciais”.

Pois, lembrou, muitas das lojas da zona abrem só depois das 09:00 e existem pequenos comerciantes que não têm armazéns dada a reduzida dimensão dos estabelecimentos e precisam de ser abastecidos todos os dias.

Com os novos horários, os custos com as cargas e descargas vão aumentar de forma insustentável porque serão cobrados valores muito superiores no período noturno, disse.

“É um tecido ainda com muito comércio tradicional e local”, salientou.

Numa das intervenções mais críticas sobre a proposta da Câmara de Lisboa, Maria Augusta Gomes alertou para a “situação catastrófica” que existe no Chiado, onde todos os pequenos negócios estão a desaparecer.

“Só acredito nisto tudo quando vir a Praça do Município sem carros e vir os senhores a irem de bicicleta para o emprego”, disse, dirigindo-se diretamente ao presidente da autarquia e lamentando que Fernando Medina apenas passe pelo Chiado “em campanha eleitoral”.

“Não faça de Baixa um laboratório como fizeram na Avenida da Liberdade, não faça experiências”, acrescentou.

Entre os moradores, a forma como irá ser feito o acesso dos seus automóveis à ZER foi uma das questões mais colocada, com alguns a alertarem para as dificuldades levantadas pela Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento (EMEL) na atribuição de dísticos .

“Não li nada no seu programa eleitoral” sobre este projeto, disse um morador de Alfama, interpelando o presidente da autarquia.

Mas, se alguns moradores levantaram reservas aos condicionamentos na circulação automóvel, outros, com casas na Rua da Madalena, defenderam que também aquela artéria devia estar incluída na zona de acesso restrito.

“Escolher a Rua da Madalena para permitir o atravessamento [automóvel] é uma péssima escolha”, disse Inês Pinto, considerando que poluição no local irá ficar ainda mais “concentrada”.

Fernando Medina: “Não me interpretem como um vendedor que quer vender um fato de pronto a vestir”

Nas respostas que foi dando a moradores e comerciantes, assim como na intervenção inicial que fez, o presidente da Câmara de Lisboa reconheceu que a criação da ZER Avenida-Baixa-Chiado é um projeto de “enorme importância”, mas também de grande complexidade”.

“Há interesses que são conflituantes, temos bem a consciência da conflitualidade dos interesses”, admitiu, garantindo, contudo, existir por parte da autarquia “um espírito muito aberto” para introduzir melhorais.

“Não me interpretem como um vendedor que quer vender um fato de pronto a vestir”, assegurou, reiterando que o município “vai ouvir tudo e ponderar tudo” acerca de um dos “projetos mais importantes do mandato” que permitirá tirar mais de 40 mil carros por dia do centro da cidade.

Por isso, salientou, a autarquia “não quer que as coisas corram mal”.

A ZER abrange parte das freguesias de Santa Maria Maior, Misericórdia e Santo António.

Além da sessão pública na freguesia de Santa Maria Maior para a apresentação da proposta de ZER, também na quinta-feira a Câmara realizou outra semelhante na freguesia da Misericórdia. Para dia 21 está prevista uma sessão na freguesia de Santo António.