Dos 46 requerimentos para a atividade de prospeção e pesquisa na Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG), 30 visam o lítio como substância mineral principal, envolvendo um investimento de 3,8 milhões de euros para o período inicial de contrato – dois a três anos – e uma área total de 2.500 quilómetros quadrados.
Esta corrida ao lítio levou o Governo a avançar com uma “alteração da forma como são dadas as concessões”, como revelou recentemente o ministro da Economia, Caldeira Cabral, no parlamento, o que passará pela abertura de concurso público, até porque existem atualmente vários pedidos para as mesmas áreas de concessão.
Os pedidos que já deram entrada na DGEG passarão pelo crivo das novas regras, que deverão ser conhecidas ainda este ano.
De acordo com o relatório do grupo de trabalho ‘lítio’, constituído há um ano como resposta a este crescimento de pedidos de prospeção de exploração, a viabilidade deste metal parece ser inequívoca, sendo apelidado de “metal do futuro”, devido às suas aplicações de elevada tecnologia, nomeadamente espaciais, eletrónicas e químicas.
Em Portugal, a utilização de minérios de lítio tem estado confinada à indústria de cerâmica, sendo considerado mais-valia, uma vez que baixa o ponto de fusão, permitindo assim baixar o consumo energético das empresas. Mas “a partir deste momento faz sentido desenvolver uma reflexão sobre os conteúdos em lítio dos vários minerais, bem como dos respetivos teores médios nos minérios exploráveis, isto é, os teores médios de lítio nos jazigos que tornam a exploração economicamente viável”.
Nos últimos dois anos assistiu-se a uma subida acentuada dos preços do lítio no mercado internacional, existindo estimativas de, a breve prazo, se verificar um exponencial aumento de automóveis elétricos, o que faz prever uma elevada procura de lítio a nível mundial, nota o grupo de trabalho, no relatório concluído em março e que desde então está na posse do Governo.
“É, assim, expectável que a prospeção e pesquisa deste recurso mineral, bem como a sua exploração e valorização venham a merecer um acentuado incremento, nomeadamente em países com recursos minerais de lítio geologicamente reconhecidos, como é o caso de Portugal”, acrescenta.
O grupo de trabalho não tem dúvidas quanto ao potencial de vários minerais de lítio e que estes são “tecnologicamente valorizáveis”, mas alerta para as debilidades nos recursos humanos e financeiros das instituições governamentais relacionadas com o setor mineiro, a desigualdade no grau de conhecimento sobre as várias jazidas e ainda um processo burocrático demasiado longo na decisão da atribuição de direitos.
A extração mundial de lítio é feita há várias décadas sobretudo a partir de salmouras (essencialmente, lagos salgados), devido ao menor custo operacional, mas a procura crescente de lítio no mercado, motivado pela mobilidade elétrica, tem levado ao lançamento de projetos para a extração a partir de minerais de rocha, procurando soluções inovadoras que permitam reduzir os custos de produção.
Como a Lusa noticiou em maio, o grupo de trabalho do lítio, constituído em dezembro para avaliar a possibilidade de produção em Portugal, propôs ao Governo um programa de fomento mineiro que teste tecnologia e demonstre o potencial industrial deste metal, financiado por programas financeiros.
No relatório, a que a Lusa teve então acesso, o grupo de trabalho defende – além da avaliação dos recursos minerais litiníferos do país – a implementação de uma unidade experimental minero-metalúrgica com o objetivo de desenvolver conhecimento e testar tecnologias para toda a cadeia de valorização destes recursos.
O lítio e os seus componentes são utilizados pela indústria de cerâmica e vidro, lubrificantes industriais, aplicações médicas, siderurgia de alumínio e as baterias.
De acordo com o Deutsche Bank, os principais mercados de destino para baterias em 2015 foram veículos elétricos (25%), telemóveis e ‘smartphones’ (19%), computadores portáteis (16%), antecipando que os mercados tradicionais do lítio cresçam em média 3,6% ao ano nos próximos dez anos.
A DGEG definiu 11 campos de pesquisa, em função das expectativas das empresas requerentes de direitos de prospeção: Agra, Sepeda – Barroso – Alvão, Covas do Barroso-Barroso-Alvão, Murça, Almendra, Penedono, Amarante – Seixoso-Vieiros, Massueime, Gonçalo-Guarda-Mangualde, Segura e Portalegre.
Esta corrida ao lítio em Portugal já chegou aos tribunais, na sequência do litígio entre a empresa nacional LusoRecursos, que detém a licença de prospeção – já atribuída -, e a australiana Novo Lítio (antes designada Dakota Minerals), que tem realizado os trabalhos de pesquisa em Sepeda, Montalegre, distrito de Vila Real.
Ambientalistas dizem que lítio é importante mas avisam para impactos da exploração
Desde a exploração até ao fim de vida como elemento de baterias elétricas, o lítio suscita algumas preocupações a ambientalistas ouvidos pela Lusa, que defendem que não se deve só contar com este metal e pedem atenção aos impactos ambientais.
"O lítio é importante para acabar com a dependência do petróleo nos transportes mas esperamos que haja muita energia solar para carregar as baterias de lítio, porque agora, a maior parte da eletricidade é produzida pelas centrais a carvão e assim não adianta", apontou João Branco, da Quercus.
Pela associação Zero, Francisco Ferreira considerou que é "crucial olhar para as baterias na lógica da economia circular", garantindo que há um sistema montado para reciclá-las e reutilizar o elemento que apenas constitui uma "parte mínima" da bateria, cerca de dois por cento.
Com a explosão dos veículos elétricos, generalizam-se as baterias com lítio, que também são usadas em habitações como forma de armazenar eletricidade.
João Branco acrescentou que em Portugal já se recolhem e tratam pilhas e baterias com outros elementos, mas apenas 35% da meta anual de 45% chegam a ser reciclado.
A nível global, "a percentagem de reciclagem de lítio ainda é incipiente, ainda não há um circuito", destacou Francisco Ferreira.
Mesmo em sistemas de reciclagem montados "há anos", como o que se destina a recolher os gases nocivos para o ozono que estão nos equipamentos de frio, a percentagem do que é recolhido fica-se pelos 09%, indicou.
O responsável da Zero defende ainda que é preciso "diversificar e descobrir alternativas", porque se se aposta só neste metal, "vão ser precisas milhares de toneladas à escala global", o que poderá tornar o uso do lítio insustentável a longo-prazo.
João Branco sublinhou por sua vez que as reservas de lítio estudadas em Portugal estão na rocha, ao contrário de outros países, em que se extrai um sal que contém aquele elemento e que o impacto da mineração depende da concentração.
Se for pouco concentrado, terá que ser extraída e escavada mais rocha, o que poderá produzir uma quantidade considerável de escória, sujeitas a processos de lavagem, que produzem muitos poluentes, não necessariamente o lítio.
Os impactos na paisagem ou em zonas protegidas que possam conter lítio vão obrigar a prestar atenção às avaliações de impacto ambiental, para que a procura de mecanismos de armazenamento de energia mais eficazes não obrigue a "sacrificar outros valores naturais".
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