O livro "Caminhos de I Demonho" tem o propósito de homenagear todos aqueles que decidiram deixar a sua terra e partir para um outro país à procura de uma vida melhor.

A apresentação do livro acontece no sábado, pelas 15h30, na sede da Junta de Freguesia de Urrós, concelho de Mogadouro, distrito de Bragança. A par da apresentação, está preparado um reencontro, ao fim de 52 anos, de todos aqueles que partilharam as suas experiências.

Este trabalho é resultado da vontade dos investigadores raianos (termo relativo a quem habita próximo da fronteira) David Casimiro e Guilherme Filipe, que recolheram testemunhos vividos por quem um dia partiu em direção a França.

"O livro contém testemunhos fidedignos de quem, nas décadas de 60 e 70 do século passado, passou clandestinamente a fronteira [nos concelhos raianos de Mogadouro e de Miranda do Douro]. Após três anos de investigação descobrimos que havia três rotas possível para os emigrantes clandestinos chegarem à fronteira entre Espanha e França", disse um dos autores, David Casimiro.

Durante o percurso, os emigrantes deparavam-se com um conjunto de obstáculos naturais e climatéricos - próprios da raia seca e raia molhada, que separa Portugal de Espanha no território do Planalto Mirandês - e com a perseguição dos agentes da autoridade ao serviço de Salazar e Franco.

"Com os testemunhos reais de dois passadores, foi possível desenhar um primeiro mapa da emigração clandestina neste território. Acreditamos que os concelhos de Mogadouro e Miranda do Douro foram uma grande plataforma de passagem de emigrantes clandestinos durante o tempo da ditadura e da guerra colonial", vincou o investigador.

David Casimiro e Guilherme Filipe defendem que o território do Planalto Mirandês foi o ponto de partida de muitos emigrantes um pouco de todo o país.

"Havia outras zonas, como o concelho de Vinhais. Porém, apresentava maiores perigos para os clandestinos. Um dos nossos testemunhos indica que ficou preso quando tentava passar outras pessoas para Espanha por este concelho", exemplificou.

Com a leitura do livro, é possível depreender que o passador não acompanhava o passante e tinha um conjunto de colaboradores e informadores a quem dava ordens no percurso até à localidade espanhola de Irún, no País Basco.

"O passador era o topo da pirâmide, que era acompanhado por um colaborador de confiança, e depois havia os engajadores que andavam pelas localidades, de forma muito discreta, à procura de quem queria passar a salto para França", sintetizou David Casimiro.

Durante o percurso de construção do livro "Caminhos de l Demonho", os investigadores ouviram passadores, passantes, engajadores e colaboradores diretos. Com o resultado final, pretendem homenagear todos aqueles que um dia decidiram deixar a sua terra e partir para um outro país à procura de uma vida melhor.

"Por vezes havia situações de extrema pobreza, piores que aquelas que deixavam nas suas terras de origem", observou o investigador.

Os autores, David Casimiro e Guilherme Filipe, estão a receber novos testemunhos de emigração clandestina, mantendo aberta a possibilidade de uma segunda edição.