Mark Pomerantz escreve em “Pessoas vs. Donald Trump: uma conta interna” que o então procurador distrital Cyrus Vance Jr. o autorizou, em dezembro de 2021, a procurar a acusação contra Trump.
Depois de analisar detalhadamente vários aspetos da vida e dos negócios de Trump, incluindo subornos pagos em seu nome, Pomerantz revela na obra que concordaram em avançar com a acusação num caso envolvendo alegações de que Trump falsificou registos comerciais, inflacionando o valor dos ativos nas demonstrações financeiras que forneceu aos credores.
Vance deixaria o cargo poucas semanas depois, mas expressou confiança de que o seu sucessor, Alvin Bragg, concordaria com a sua avaliação e levaria o caso até o fim, acrescenta Pomerantz no livro.
Mas Bragg e a a sua equipa tinham outras ideias, manifestando apreensão sobre a força das provas, a credibilidade de uma testemunha-chave e, finalmente, decidiu não prosseguir, pelo menos não com a velocidade que Pomerantz e o co-procurador Carey Dunne desejariam.
Estes dois acabariam por resignar à investigação criminal ao antigo presidente.
“Mais uma vez, Donald Trump conseguiu dançar entre as gotas de chuva da responsabilidade”, escreve Pomerantz no livro, que será publicado na terça-feira pela Simon & Schuster e divulgado pela agência Associated Press (AP) e outros meios de comunicação que receberam cópias.
O livro, de 304 páginas, acaba por moderar o drama em torno da separação entre Pomerantz e Bragg devido às divergências sobre a direção do caso, que se tornou pública no ano passado, quando a sua carta de demissão foi divulgada pelo jornal The New York Times.
Pomerantz retrata este conflito não como um confronto arrasador e arrastado, mas como uma diferença legítima de opinião moldada por longas ligações através da plataforma Zoom e conversas telefónicas.
O livro de Pomerantz apresenta ainda os bastidores da sua carreira de décadas como procurador envolvido em investigações à máfia e a crimes de colarinho branco, trançado por vezes paralelo entre os dois mundos.
O gabinete de Bragg tentou no mês passado interromper a publicação do livro, levantando preocupações numa carta a Pomerantz e à Simon & Schuster de que o seu relato poderia “prejudicar materialmente as investigações criminais em andamento”. Em resposta, Pomerantz garantiu que seguiu as obrigações legais e éticas e que, a seu ver, nada no livro compromete a investigação.
Em reação aos dados contidos no livro, Bragg adiantou esta sexta-feira que não leu o livro e que não irá comentar nenhuma “investigação em andamento por causa dos danos que isso pode causar ao caso”.
A Associação de Procuradores do Estado de Nova Iorque também expressou a sua preocupação, destacando esta sexta-feira em comunicado que “um ex-procurador a falar durante uma investigação criminal em andamento, da qual ele fazia parte, é lamentável e sem precedentes”.
Trump também tentou bloquear a publicação do livro, ameaçando com ação uma legal contra Pomerantz e a Simon & Schuster, por “declarações difamatórias” e “falsidades infundadas” sobre a sua alegada conduta criminosa, mas ainda não reagiu aos novos dados sobre a obra.
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