"Estou muito satisfeito e não quero começar já a felicitar, mas quero dizer que se for por aí que pretendemos seguir, Angola vai sair da cepa torta. Se for um teatro, eles ganham um balão de ar durante um tempo e depois esvazia, mas acho que não posso apresentar de momento algo que seja mais crítico ou pessimista", disse hoje em declarações à Lusa.
Reagindo à postura da Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola, que constituiu arguidos o filho do ex-Presidente angolano, José Filomeno dos Santos e o ex-governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Valter Filipe, pela prática suspeita de vários crimes, o ativista do processo conhecido por 15+2 mostrou-se esperançoso em uma nova era para o país.
"Quero ter esperança também neste país, quero sentir que as coisas vão melhorar e acho que é um bom indício o que se passa com esses processos, e mostrar que ninguém deve estar acima da lei. Estarem envolvidas em grandes esquemas de enriquecimento ilícito, a serem constituídos arguidos e a responderem como tal, é um indício de esperança de que, pelo menos, há intenção de nos dirigirmos para um novo caminho", acrescentou.
A informação sobre os crimes de defraudação, peculato e associação criminosa de que são suspeitos o filho do ex-Presidente e o ex-governador do BNA foi prestada segunda-feira aos jornalistas pelo subprocurador-geral da República de Angola, Luís Benza Zanga.
De acordo com a informação, em causa está uma transferência irregular de 500 milhões de dólares para um banco britânico, que além de José Filomeno dos Santos e Valter Filipe levou à constituição de outros três arguidos, um dos quais, Jorge Gaudens Pontes Sebastião, sócio do filho do ex-Presidente angolano.
Num outro processo, o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas angolanas, general Sachipendo Nunda, foi igualmente constituído arguido no crime de tentativa de burla ao Estado de 50 mil milhões dólares, revelou também nesta segunda-feira a PGR angolana.
Processo que, segundo a Direção Nacional de Investigação e Ação Penal da PGR, envolve igualmente o antigo diretor da Unidade Técnica de Investimento Privado, Norberto Garcia, igualmente secretário para a Informação do MPLA, partido no poder, e o ex-director da Agência para a Promoção do Investimento e Exportação, Belarmino Van-Dúnem.
Luaty Beirão diz querer acreditar que as ações da PGR angolana não sejam "mero teatro".
O ativista referiu-se a "pessoas que sempre foram tratadas como semi-deuses e intocáveis" e considerou que este passo da Procuradoria-Geral da República de Angola "era completamente impensável até à véspera de ter acontecido", acrescentando que acredita que possa haver fortes indícios dos crimes de que as referidas figuras são acusadas.
"Considero que para cidadãos dessa natureza serem constituídos arguidos deve seguramente haver indícios muito fortes, porque se não a PGR não tomaria essa decisão que poderia ser interpretada como leviana, há uns tempos atrás, tão depressa, por isso deduzo que existam indícios", concluiu.
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