A TAP encerrou 2022 com um lucro líquido de 65,6 milhões de euros após prejuízos de 1.600 milhões em 2021. A companhia aérea tinha registado pela última vez lucros em 2017, altura em que obteve um resultado positivo que rondou os 21 milhões de euros.

“A TAP encerrou o ano de 2022 com um lucro líquido de 65,6 milhões de euros, um aumento de 1.664,7 milhões de euros em relação ao ano anterior”, informou a transportadora aérea, em comunicado.

O plano de reestruturação da TAP, aprovado pela Comissão Europeia no final de 2021, previa que a companhia aérea começasse a dar lucro em 2025 e que obtivesse um resultado operacional positivo em 2023, algo que a empresa atingiu no primeiro semestre de 2022.

Os sindicatos já reagiram.

Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC)

O presidente do SINTAC defendeu hoje, em declarações à agência Lusa, que o lucro justifica "mais do que nunca" o "fim dos cortes" salariais em vigor na companhia.

Pedro Figueiredo também salientou que “estes resultados históricos – segundo a administração – são o resultado [do esforço] dos trabalhadores, daqueles que efetivamente o fazem por amor à camisola”. O dirigente sindical recordou estarem em vigor “cortes muito agressivos até 2025”, que defende que “sejam efetivamente abolidos ou negociados o mais breve possível, porque os trabalhadores merecem”.

“Este sindicato está a trabalhar no sentido de que, a qualquer momento, esses cortes terminem. Vamos ver com os outros sindicatos — que, com certeza, estarão de acordo – que estes cortes tenham um fim o mais rapidamente possível. É isso que defendemos e é isso que queremos”, sustentou.

Com os resultados hoje anunciados pela TAP, que obteve lucros antes do previsto no plano de reestruturação, o SINTAC considera também que a privatização da companhia “fica um pouco mais facilitada, embora a paz social não esteja ainda completamente” assegurada.

Pedro Figueiredo salientou, contudo, que “os trabalhadores, nomeadamente por via do sindicato, são contra a privatização da TAP”, opondo-se a que “o Estado fique sem o capital suficiente para poder dirigir” a empresa.

Isto mesmo tendo ficado “um pouco mais descansados” com a garantia dada na semana passada aos sindicatos de que “um dos pressupostos para a privatização da TAP é a manutenção do ‘hub’

em Lisboa”: “A manutenção do ‘hub’ é muito importante para o país e para a TAP, mas também para os seus trabalhadores”, enfatizou.

Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC)

O SPAC acusou a TAP de lucrar quase 66 milhões de euros em 2022 à custa dos cortes salariais dos trabalhadores, e de financiar a viabilidade da companhia aérea à custa dos funcionários.

Reagindo à apresentação dos resultados da TAP, o sindicato diz que, no entanto, vai dar "um voto de confiança" à nova Administração Executiva da TAP, que em breve vai tomar posse.

"O parco resultado da TAP no ano passado foi conseguido sim, e apenas, à custa dos cortes salariais dos trabalhadores, tendo para isso contribuído substancialmente os pilotos, com um corte salarial de 45% no ano de 2022. Destacamos, pois, que estes débeis resultados nem sequer cobrem o valor do que seria retribuição anual, sem cortes, dos pilotos!", denúncia o SPAC em comunicado.

O SPAC diz ainda que as contas da companhia aérea, hoje divulgadas, provam assim que "foram e continuam a ser os trabalhadores, e em particular os pilotos, a financiar a viabilidade da empresa, na sua dupla qualidade" de contribuintes e funcionários com os salários cortados.

"Concluímos, como temos vindo a alertar há bastante tempo, que o Plano de Reestruturação da TAP apenas prevê, como medida estrutural, os cortes salariais e a degradação das condições de trabalho, sem localizar, eliminar ou mitigar o que de facto impacta a sustentabilidade da empresa", frisa.

O sindicato diz ainda que espera poder unir esforços entre administração e trabalhadores, com a nova administração executivo, "de forma a que quem está na linha da frente possa ser ouvido e contribua diretamente na verdadeira reconstrução da empresa", de que todos querem fazer parte.

"Uma TAP de futuro e com futuro", conclui no comunicado.

Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava)

A acusação do SPAC sobre a forma como a TAP conseguiu lucros no ano passado, à custa de cortes salariais, também foi hoje expressa pelo Sitava, que denunciou terem sido obtidos “à custa do sacrifício dos trabalhadores sem olhar a meios”.

“Como é óbvio, da nossa parte e da parte dos trabalhadores, todos sentem que o seu trabalho e sobretudo os seus enormes sacrifícios se traduziram em resultados positivos no valor de mais de 60 milhões de euros”, garantiu o sindicato.

“Mas como todos nós bem sabemos, por trás deste resultado estão opções com as quais discordamos profundamente”, assegurou, salientando que “este resultado é fruto dos cortes salariais e do aumento das cargas de trabalho” que “estão a ser violentamente impostas”.

O sindicato disse que tem sido referido que o plano de reestruturação “é para cumprir à risca, mas neste caso como se tratava de massacrar os trabalhadores, já optaram por não o cumprir e antecipá-lo dois anos”.

(Artigo atualizado às 23h30)