"Não adianta querer demarcar algumas terras indígenas se está a querer aprovar petróleo na Amazónia”, afirmou Korap por telefone durante uma visita a São Paulo, para onde viajou do Pará, o seu estado natal, para conhecer um enorme mural artístico contra o desmatamento que traz uma imagem sua.

O governo do presidente Lula prevê avanços na exploração ‘offshore’ de parte da chamada Margem Equatorial, uma área marítima a 500 quilómetros da desembocadura oceânica do rio Amazonas, com reservas potenciais de 10 mil milhões de barris de petróleo e investimentos previstos de quase 50 mil milhões de dólares.

“Na hora em que começarmos a explorar a chamada Margem Equatorial, vamos dar um salto de qualidade extraordinária”, declarou Lula em junho, neste momento o projeto está pendente de uma licença ambiental.

“Queremos fazer tudo de forma legal, respeitando o meio ambiente, respeitando tudo. Mas não vamos deitar fora nenhuma oportunidade de fazer esse país crescer”, avisou o petista.

Lula prometeu fazer do Brasil um país de referência na luta contra o aquecimento global e, por exemplo, o desmatamento na Amazónia Legal caiu 30,6% entre agosto de 2023 e julho de 2024.

Mas organizações de defesa do meio ambiente criticaram a sua defesa do projeto petrolífero pelo possível impacto na biodiversidade da região, assim como para as atividades pesqueiras das quais dependem os povos locais.

Mensagem aos líderes globais

Korap, que recebeu, entre outros, o Prémio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos por sua luta contra o desmatamento e as atividades extrativas ilegais na Amazônia, afirmou à AFP que espera que os líderes mundiais que se reunirão na cimeira do G20, em 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, "escutem os povos indígenas".

“Como vão falar de sustentabilidade se não consultam os povos indígenas, o pescador que vive no dia a dia do rio?”, questionou Korap, que pertence ao povo Munduruku, cuja população estima-se que tenha cerca de 14.000 pessoas.

“Consultar não é uma reunião com uma ou duas lideranças, é com todo povo que vai ser afetado. O desenvolvimento que eles falam não envolve as nossas crianças, a nossa floresta”, alertou.

A ativista, de 39 anos, disse que não deposita nenhuma expectativa na COP29, a conferência sobre mudanças climáticas das Nações Unidas, que começou esta segunda-feirano Azerbaijão, nem na COP30 de 2025, que ocorrerá no Pará, porque “vão ser 30 anos de COP e 30 anos que não têm solução”.

Em vez disso, deixou um recado para os governos que discutirão, entre outras coisas, como equilibrar a economia extrativa com o cuidado ambiental: “Nós, os povos indígenas não negociaremos nosso território”.