“Não nos convém um mundo marcado pelo recrudescimento dos conflitos, pela crescente fragmentação, pela formação de blocos protecionistas e pela destruição”, afirmou Lula da Silva num encontro do G20, grupo formado pelas vinte maiores economias do mundo, presidido pelo Brasil até o fim de 2024.
As reuniões do grupo Sherpas, composto por emissários dos líderes do G20 e dos observadores, têm como missão supervisionar as negociações, discutir os pontos que formam a agenda da Cimeira, que será realizada em novembro de 2024 no Rio de Janeiro, e de coordenar os trabalhos do grupo que reúne as maiores economias do mundo.
O chefe de Estado brasileiro lembrou que a liderança exercida pelo país sul-americano no G20 terá como temas centrais a inclusão social e o combate à fome e à pobreza, a promoção do desenvolvimento sustentável nas dimensões social, económica e ambiental e as transições energéticas e a reforma das instituições de governança global.
Falando sobre inclusão social, Lula da Silva considerou inadmissível que o mundo conviva com a fome de mais de 735 milhões de pessoas e a pobreza de mais de 8% da população global.
No que se refere ao meio ambiente, o governante sul-americano disse acreditar que a descarbonização da economia global e a revolução digital são processos que mudarão o planeta e reconheceu que o G20 precisa debater o aquecimento global.
“O G20 é responsável por três quartos das emissões globais de gases de efeito estufa. Os membros de renda alta do grupo emitem, anualmente, doze toneladas de gás carbónico per capita, enquanto os de renda média emitem metade desse volume. O planeta não suportará um aumento da temperatura global superior a um grau e meio”, apontou Lula da Silva.
“É preciso definir princípios básicos sobre o uso sustentável de recursos naturais para a geração de bens e serviços de alto valor agregado. O acesso a tecnologias é fundamental não só para uma transição energética justa, mas também no campo digital. Serão necessárias diretrizes claras e coletivamente acordadas para o uso dessa ferramenta”, completou.
Sobre governança global, o Presidente brasileiro voltou a criticar a divisão de poder no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, nos lugares do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
Lula da Silva também reivindicou mudanças nos mecanismos de financiamento climático, citando que os quatro maiores fundos ambientais do mundo possuem um saldo de mais de dez mil milhões de dólares (cerca de 9,2 mil milhões de euros), mas países em desenvolvimento não conseguem aceder a esses recursos por empecilhos burocráticos.
“Os bancos multilaterais de desenvolvimento devem ser maiores, melhores e mais eficazes, destinando mais recursos, e de forma mais ágil, para iniciativas que realmente façam a diferença”, apontou o Presidente brasileiro.
O Brasil, que exerce a presidência do G20 desde o primeiro dia de dezembro, convidou Portugal, Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega e Singapura para observadores da organização.
O diretor geral de Política Externa do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, e sherpa para o G20, embaixador Rui Vinhas, disse à Lusa que Portugal encara a sua primeira participação como observador do grupo multilateral como uma oportunidade de projetar o país e de aumentar a sua visibilidade no plano internacional.
“É uma grande oportunidade de projetar Portugal e de termos uma visibilidade acrescida no plano internacional, participando numa plataforma internacional muito relevante”, frisou Vinhas.
Os membros do G20 são as 19 principais economias do mundo: Estados Unidos da América, China, Alemanha, Rússia, Reino Unido, França, Japão, Itália, índia, Brasil, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Indonésia, México, Turquia, mais a União Europeia e a União Africana.
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