"Fiquei assustado com a declaração de Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai haver um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue", afirmou o presidente sobre o seu suposto aliado.

"O Maduro tem de aprender, quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição", declarou Lula durante conferência de imprensa com agências internacionais em Brasília.

"Então eu estou a torcer [para] que isso aconteça pelo bem da Venezuela e pelo bem da América do Sul", acrescentou.

O país realizará no próximo domingo eleições presidenciais que representam o maior desafio para o chavismo nos seus 25 anos no poder, com uma oposição que, pela primeira vez, aparece como favorita.

Maduro, de 61 anos, presidente desde 2013 e aspirante a um terceiro mandato de seis anos, apresentou esta votação como uma escolha entre "paz e guerra", e disse que uma vitória da oposição levaria a um "banho de sangue".

"Já falei com o Maduro duas vezes, [...] e o Maduro sabe que a única hipótese da Venezuela voltar à normalidade é ter um processo eleitoral que seja respeitado por todo mundo", afirmou Lula.

"Se Maduro quiser contribuir para o regresso do crescimento na Venezuela, a regresso das pessoas que saíram da Venezuela, estabelecer um estado de crescimento económico, ele tem de respeitar o processo democrático", defendeu o presidente.

Lula subiu o tom recentemente ao criticar uma série de obstáculos à oposição por parte da autoridade eleitoral venezuelana, de viés governista, e pedir uma maior observação internacional, depois da União Europeia (UE) ter sido impedida de acompanhar as eleições.

O presidente confirmou nesta segunda-feira que o governo brasileiro enviará dois representantes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o seu assessor de assuntos internacionais, Celso Amorim, para observar o processo no país vizinho.

Lula também pediu a suspensão das sanções internacionais que pesam sobre a Venezuela. No início de julho, disse esperar que os resultados do próximo domingo sejam reconhecidos por todos e que isso permita o rápido retorno de Caracas ao Mercosul, do qual foi suspensa em 2017.

Lula também indicou que espera ter uma relação "civilizada" com a Argentina. O presidente ultraliberal Javier Milei recentemente chamou a Lula "esquerdista" com o "ego inflamado" e recusou-se a pedir desculpa por declarações anteriores à sua posse, ocasião em que classificou o brasileiro como "canhoto selvagem", "comunista" e "corrupto".

"Não é uma relação pessoal, não é uma questão de amizade, não existe isso entre dois chefes de Estado", disse Lula nesta segunda-feira. "É isso que eu espero da Argentina, uma relação civilizada, uma relação crescente, e obviamente que vai depender muito do comportamento do governo da Argentina em relação ao Brasil", acrescentou.

O Brasil também acompanha de perto a situação na Bolívia, marcada por uma tentativa de golpe de Estado em junho.

Lula planeia convidar o ex-presidente boliviano Evo Morales (2006-2019) para discutir em Brasília a situação do seu país, segundo fontes do Palácio do Planalto, que não deram mais detalhes.

O golpe fracassado aprofundou ainda mais a divisão no seio da esquerda boliviana entre Morales e o presidente Luis Arce, o seu ex-aliado.