“Vocês já viram alguém pedir para Fernando Henrique Cardoso [antigo Presidente brasileiro] fazer autocrítica? […] Quem quiser que o PT faça autocrítica, que faça ele próprio a crítica. É a oposição quem critica, ela existe para isso […] Na dúvida, defendemos o nosso companheiro”, afirmou Lula da Silva, citado na imprensa, em defesa do partido que criou e que está envolvido em vários escândalos de corrupção.

O primeiro grande escândalo descoberto durante o Governo de Lula da Silva, em 2005, ficou conhecido como “Mensalão”, e denunciou a compra de votos de deputados com dinheiro público desviado com ajuda do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e do operador financeiro Marcos Valério.

Seguiu-se o “Petrolão”, um esquema multimilionário de corrupção na estatal brasileira Petrobras, ocorrido durante os Governos do PT de Lula da Silva e Dilma Rousseff, que envolvia cobrança de subornos a construtoras, branqueamento de capitais, evasão de divisas e sobrefaturação de obras contratadas para abastecer os cofres de partidos, funcionários da empresa estatal e políticos.

Luiz Inácio Lula da Silva, de 74 anos, que governou o Brasil entre 2003 e 2010, foi preso em abril do ano passado após ter sido condenado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), num processo sobre a posse de um apartamento, que os procuradores alegam ter-lhe sido dado como suborno em troca de vantagens em contratos com a estatal petrolífera Petrobras pela construtora OAS.

O antigo chefe de Estado cumpria pena em regime fechado de oito anos e 10 meses de prisão na cidade de Curitiba desde 7 de abril do ano passado, por corrupção.

No entanto, Lula da Silva foi libertado um dia após o Supremo Tribunal Federal decidir anular prisões em segunda instância, como era o caso do ex-governante.

O Supremo alterou um entendimento adotado desde 2016, decidindo que réus condenados só poderão ser presos após o trânsito em julgado, ou seja, depois de esgotados todos os recursos, com exceção de casos de prisões preventivas decretadas.

Ao lado de personalidades políticas ligadas ao PT, como a presidente do Partido, Gleisi Hoffmann, e o ex-candidato pelo PT às presidenciais do ano passado, Fernando Haddad, Lula da Silva discursou hoje ao longo de cerca de uma hora, num hotel no estado da Bahia, para centenas de apoiantes.

“Eu acho que o PT é o único partido com obrigação de contar a sua história, para que saibam que não somos aquilo que falam de nós. Nós queremos fazer mudança de verdade no Brasil. (…) O PT não nasceu para ser um partido de apoio”, afirmou Lula da Silva.

O antigo governante, quer ia sendo aplaudido pelo público, frisou: “O problema que eles (oposição ao PT) têm é com aquilo que nós representamos. Defendem que o menino negro não tem que entrar em universidades, que mulher pobre não pode fazer faculdade (…), que os pobres não possam viajar. Foi isso que os incomodou”.

Na Bahia, no nordeste brasileiro, região onde o PT tem fixado grande parte do seu eleitorado, Lula da Silva afirmou que o partido não deve abdicar do seu protagonismo e que deve lançar candidatos em todas as cidades possíveis nas eleições municipais de 2020.

“O nosso partido tem que sair mais forte, mais disposto a lutar. Sabem quem polariza? Quem disputa o título. Um partido só cresce quando disputa”, disse Lula da Silva.

O antigo chefe de Estado anunciou que, após a sua saída da cadeia, pretende participar em grandes viagens pelo país, as famosas “caravanas”, para aumentar a sua popularidade e incorporar a oposição ao Presidente do país, Jair Bolsonaro.