O tradicional debate da TV Globo, geralmente o mais visto antes das eleições, é o segundo duelo televisivo com a presença dos dois líderes nas pesquisas e esperava-se que fosse eletrizante, visto como a última grande oportunidade para ambos os lados de atrair o eleitor indeciso.

A transmissão ao vivo começou às 22:30 e durou até às 02:00 locais (06:00 em Lisboa) no canal aberto da Globo, a maior rede de televisão do gigante sul-americano e contou com a participação de Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PL), Padre Kelmon (PTB), Luiz Felipe D'Ávila (Novo), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil).

Padre Kelmon (PTB), que serviu de bengala a Bolsonaro durante todo o debate, questionou o Presidente brasileiro sobre se a esquerda quer "fechar igrejas e calar a boca de padres".

Bolsonaro respondeu que o "futuro da nação está em jogo" e acusou Lula de ter sido o "chefe da quadrilha".

A partir daí o debate descambou numa troca de acusações de corrupção e de pedidos de direito de resposta entre os dois principais candidatos.

"Dizer que eu montei quadrilha, se ele se olhasse ao espelho, se soubesse o que acontece no seu governo, o que foi a quadrilha da vacina", acusou um irritado Lula, favorito nas pesquisas, ao citar as irregularidades durante a compra de antigénios contra a covid-19.

"Mentiroso, ex-presidiário, traidor da pátria!", devolveu Bolsonaro, ao lembrar os escândalos de corrupção denunciados durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT) entre 2003-2016.

"Rachadinha [desvio de salários de assessores] são os teus filhos. Roubaram milhões após a tua chegada ao poder", acusou Bolsonaro.

Horas antes do debate, a campanha de Lula ganhou um empurrão com a divulgação da última pesquisa da Datafolha, que mantém o ex-presidente com 14 pontos à frente de Bolsonaro, mais perto de garantir o regresso de Lula ao Palácio do Planalto pela terceira vez e logo na primeira volta.

As expectativas para o debate foram cumpridas. Desde o início, sob um formato onde os candidatos se desafiavam com perguntas, Lula e Bolsonaro logo se envolveram em troca de acusações.

"Não minta, é feio que um presidente da República minta a toda a hora, descaradamente", disse Lula, de 76 anos. "É por isso que a 2 de outubro o povo vai ter de o mandar de volta para casa".

O presidente Bolsonaro tenta a reeleição, contando principalmente com o voto evangélico e empresarial, mas há meses que é amplamente superado pelo ex-presidente nas sondagens.

Segundo a consulta do Instituto Datafolha publicada nesta quinta-feira, Luiz Inácio Lula da Silva tem 48% das intenções de voto frente a 34% de Bolsonaro. Os dois candidatos subiram um ponto em relação à sondagem da semana passada.

Considerando apenas os votos válidos (sem brancos e nulos), Lula tem 50% das preferências do eleitorado, percentagem mínima para conquistar a vitória. Segundo a pesquisa, 85% do eleitorado já decidiu o seu voto.

"O que o Datafolha quer com isso? Quer validar alguma coisa lá na frente? Quer dar legalidade a alguma coisa lá na frente?", questionou o presidente, que tem criticado repetidamente as pesquisas e as urnas eletrónicas, assegurando que podem ser alvo de fraudes, sem apresentar provas.

A certa altura, Ciro Gomes, terceiro classificado nas sondagens, desabafou, em tom de brincadeira: "Eu posso esperar lá fora?".

A quarta classificada nas sondagens procurou chamar a atenção para a precariedade da educação brasileira, as crianças que passam fome e os incêndios na Amazónia, questão que teve resposta de Bolsonaro: "Então a falta de chuva é responsabilidade minha?"

O clima de tensão voltou também quando Padre Kelmon (PTB) - apelidado pela candidata Soraya Thronicke de "cabo eleitoral" de Bolsonaro e de "padre de festa junina" - acusou mais uma vez Lula de ser um corrupto.

"Tive 26 denúncias mentirosas de uma pessoa que depois foi ministra do atual governo", disse Lula, referindo-se a Sérgio Moro, o juiz que esteve na base da condenação de Lula da Silva por corrupção em processos da Operação Lava Jato.

Contudo, estes acabaram anulados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) devido à jurisdição e reconhecimento da parcialidade de Moro.

"Fui absolvido em 26 processos dentro do Brasil", afirmou Lula, rematando: "Quando quiser falar de corrupção olhe para outro, não olhe para mim".

Uma pergunta que ficou sem resposta foi a de Soraya Thronicke que questionou Bolsonaro sobre se respeitará os resultados da eleição e se pretende dar um golpe de Estado.

Voto "útil"

Bolsonaro obteve nesta quinta o apoio de, Neymar, jogador do PSG e da canarinha que publicou um vídeo no Tik Tok, onde tem 8,1 milhões de seguidores, no qual dança e canta o 'jingle' de campanha do presidente.

"Vota, vota e confirma: 22 é Bolsonaro", repete Neymar, de 30 anos, em referência ao número da candidatura do presidente.

"Valeu, @neymarjr!", respondeu Bolsonaro, após repostar parte do vídeo na sua conta do Twitter.

Para Lula, que tenta voltar ao Palácio do Planalto depois de governar o país entre 2003 e 2010, um bom desempenho pode levá-lo a vencer já no próximo domingo.

"Estamos confiantes (para o debate), mas preparados para o segundo (turno)", disse uma fonte da campanha do PT.

No primeiro debate, o ex-presidente foi criticado por evitar as acusações de corrupção e faltou a um encontro organizado por outra emissora no último sábado, do qual participaram Bolsonaro e outros candidatos.

Lula faz campanha pelo voto "útil" já no primeiro turno para tentar capturar votos de outros candidatos atrás nas pesquisas, como o de centro-esquerda Ciro Gomes (6% das intenções de voto) e a senadora Simone Tebet (5%).

O ex-presidente conseguiu também o apoio de figuras simbólicas, como o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, relator do escândalo Mensalão durante o governo de Lula.

Além do Datafolha, outras consultas refletiram a possibilidade do ex-presidente vencer na primeira volta. Se nenhum dos candidatos alcançar a percentagem de 50% mais um voto, a eleição será definida no segundo turno, a 30 de outubro.

Num clima polarizado e para prevenir qualquer ato de violência, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu nesta quinta-feira proibir o porte de armas e munições em todo o país mesmo para quem possui licença, como caçadores, colecionadores e atiradores, entre sábado e segunda-feira.

A Corte já havia proibido anteriormente a posse de armas de fogo nos centros de votação num perímetro de 100 metros estabelecido para o dia da eleição.

*com Lusa

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