Em comunicado enviado hoje à Lusa, a Universidade do Minho (UMinho) refere um estudo coordenado por um dos seus investigadores, Ronaldo Sousa, que alerta para o facto de que os “habitats artificiais de água doce podem tornar-se armadilhas ecológicas devido a gestão danosa ou falta de condições para certas espécies”.
O estudo, publicado na revista científica Global Change Biology, envolveu 36 autores de 22 países e analisou 228 espécies presentes em habitats artificiais distribuídos por todo o mundo.
A UMinho explica que “muitos ambientes naturais do globo são destruídos e substituídos por lagos artificiais, canais, barragens e arrozais, para servir necessidades humanas, como a produção de eletricidade ou alimentos”.
Segundo o texto, o estudo acerca da biodiversidade naquelas estruturas “tem sido negligenciado a nível internacional”, sendo que este trabalho encabeçado por Ricardo Sousa, do Centro do Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da UMinho, recolheu uma amostra de 709 registos de habitats artificiais de todo o mundo, colonizados por 228 espécies de mexilhões de água doce, um grupo de organismos altamente ameaçado.
A maioria dos exemplos inclui canais e barragens da Europa e América do Norte, sendo que um total de 34 espécies registadas são consideradas ameaçadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza.
O investigador explica no texto que “alguns daqueles refúgios artificiais podem ter condições com estabilidade suficiente para um grande número de espécies, incluindo invertebrados e vertebrados como peixes, anfíbios, aves e mamíferos”.
Porém, alerta, “outros refúgios podem funcionar como armadilhas ecológicas, devido a más práticas de gestão ou por não haver condições ambientais para determinadas espécies”.
Ronaldo Sousa aponta que “as grandes barragens são altamente prejudiciais para animais que preferem viver em zonas de corrente, levando em alguns casos ao seu desaparecimento” e, por outro lado, canais de rega podem ser sujeitos a atividades de manutenção ou limpeza, que requerem a retirada de sedimento ou o esvaziamento temporário da água naquelas estruturas.
“Este tipo de ações pode levar à morte de grande parte dos organismos aquáticos”, salienta Ronaldo Sousa, reforçando que “os habitats artificiais não devem ser vistos como uma panaceia para resolver os problemas de conservação da biodiversidade”.
O estudo defende ser “necessário perceber melhor o uso humano daquelas estruturas e o seu valor, para se preservar certas espécies e encontrar as melhores formas de gestão que mitiguem impactos na fauna e flora”.
A Universidade do Minho lembra que também em Portugal há habitats artificiais colonizados, como canais de moinhos antigos com uma grande diversidade de organismos, incluindo o mexilhão de rio (Margaritifera margaritifera), “espécie criticamente ameaçada na Europa”.
Em termos de gestão, lê-se, “há um bom exemplo na mini-hídrica de Mirandela, no rio Tua, cujos trabalhos de manutenção em 2018 incluíram a monitorização das populações de bivalves e peixes” e que os indivíduos que ficavam em risco eram translocados para águas mais profundas.
Por outro lado, refere a universidade, em 2017 uma ação de manutenção num açude em Vila Real, no rio Corgo, deixou os animais sem água, levando à sua morte.
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