Quem passeia pelo Parque Adão Barata, mais conhecido como Parque da Cidade de Loures, já se habitou à presença de uma enorme fachada, que simboliza um monumento que se encontra a milhares de quilómetros daquela cidade do distrito de Lisboa.
Trata-se de uma réplica da fachada das ruínas de São Paulo, um dos monumentos mais emblemáticos de Macau, que está montada neste parque de Loures desde 2004.
Anos antes, tinha sido um dos atrativos da Expo 98, que se realizou na zona do Parque das Nações, em Lisboa.
Em declarações à Agência Lusa, o vice-presidente da Câmara Municipal de Loures, Paulo Piteira (CDU) explicou que a decisão de adquirir o Pavilhão de Macau e a fachada nada teve a ver com algum tipo de ligação especial àquela região asiática, que teve sob administração portuguesa até 1999, ano em que a sua gestão foi devolvida à China.
“Não há nenhuma relação particular entre o município de Loures e Macau, a não ser aquela que existe entre Portugal e o antigo território de Macau. O que acontece é que surgiu uma oportunidade que o antigo executivo achou que seria comercialmente interessante”, justificou.
O autarca refere que a ausência de uma ligação a Macau e os “elevados custos” que envolveram na ocasião a transferência daquela infraestrutura para Loures e ainda exigem nos dias de hoje para a manutenção e conservação fazem com que a sua presença não tenha sido sempre politicamente consensual.
“A contestação que houve no passado teve muito que ver com aquilo que foi inicialmente apresentado, como sendo uma operação muito mais barata, mas, depois, foi subindo de custos”, aponta.
Paulo Piteira estima que, no total, a autarquia tenha investido até ao dia de hoje mais de meio milhão de euros nesta estrutura, tendo sido a maior fatia para intervenções de manutenção e conservação.
“Esta estrutura foi concebida para durar seis meses, que era o tempo que se esperava que a exposição [Expo98] durasse. Além disso, é uma infraestrutura que está sujeita à intempérie, pois está ao ar livre. Naturalmente que há sempre processos de degradação que se tendem a acentuar”, justifica.
Apesar dos “elevados” custos de manutenção, Paulo Piteira reconhece que a fachada já ganhou uma importância muito grande para a cidade e também o carinho dos habitantes de Loures.
“Hoje faz parte da imagem que as pessoas têm da cidade e, em particular, aqui do parque, que é um sítio muito frequentado. Eu diria que é até uma peça que acaba por não destoar no seu conjunto”, atesta.
E, apesar de o município de Loures não ter uma ligação especial com Macau, que esteve até há 20 anos sob gestão portuguesa, o autarca de Loures reconhece que esta estrutura acaba por simbolizar a multiculturalidade existente no concelho.
“Esta fachada representa o Colégio de São Paulo, que foi assumidamente a grande construção dos jesuítas no oriente. A primeira grande universidade de modelo ocidental. Naturalmente, é algo que tem a ver com a nossa história e com aquilo que queremos para o nosso concelho. Portanto, é uma peça que se encaixa na visão e a vida deste concelho”, sublinha.
Alguns visitantes do parque corroboram a ideia de que a fachada do pavilhão já faz parte do património da cidade e que a “embelezam ainda mais”.
“Sei que esta fachada pertencia ao Pavilhão de Macau que esteve na Expo e que depois foi adquirida pela autarquia. Acho que foi uma boa aquisição porque tornou o parque ainda mais bonito”, disse à Lusa Maria José, moradora há 50 anos na cidade de Loures.
Também Amadeu conhece a origem desta fachada e reconhece a importância que a réplica foi ganhando ao longo dos anos.
“Já é um símbolo de Loures e do Parque da Cidade. Sim, agrada-me”, respondeu, sem hesitar.
Já Cristino Miguel considera que a fachada “embeleza o parque” e que devido à sua importância histórica deve ser preservada.
“Acho que é uma coisa histórica e é preciso lembrar os nossos antepassados”, defendeu.
Contudo, e ainda que essa seja a vontade das centenas de pessoas que frequentam diariamente o Parque Adão Barata, a manutenção deste ex-libris estará sempre ameaçada, segundo alerta Paulo Piteira.
“Tem esta característica que é efémera e não vai durar para sempre. Infelizmente, creio que no futuro não será muito fácil continuarmos a fazer este trabalho de conservação e manutenção”, alertou.
As Ruínas de São Paulo em Macau são as ruínas da antiga Igreja da Madre de Deus e do adjacente Colégio de São Paulo, importante infraestrutura do século XVI, que viria a ser destruída por um incêndio em 1835
Este monumento foi classificado em 2009, como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo.
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