Na quarta-feira, o ministro francês das Forças Armadas, Sébastien Lecornu, falou ao telefone com o seu homólogo russo, Sergei Shoigu, a primeira vez desde outubro de 2022, por sugestão de Paris, após o ataque de 22 de março numa sala de espetáculos nos subúrbios de Moscovo reivindicado pela organização terrorista Estado Islâmico (EI).
No entanto, após a reunião, Paris e Moscovo forneceram relatos bastante divergentes da discussão.
A Rússia disse, nomeadamente, que esperava que os serviços secretos franceses não estivessem envolvidos neste ataque, que deixou pelo menos 144 mortos.
“É ridículo, é dizer que a França pode estar por detrás, que os ucranianos estão por detrás (…) Tudo isso não faz sentido”, comentou hoje Emmanuel Macron, por ocasião da inauguração em Saint-Denis, nos subúrbios da capital francesa, de um centro aquático dos Jogos Olímpicos de Paris, lamentando comentários “bacocos e ameaçadores” do lado russo.
“Esta é uma manipulação de informação que faz parte do arsenal de guerra tal como é usado hoje pela Rússia”, declarou.
O chefe de Estado francês justificou a iniciativa do encontro entre os dois ministros com o facto de Paris ter precisamente “informações úteis” para transmitir “sobre as origens e organização deste ataque”, no seguimento de um “trabalho conjunto com todos os afetados pelo terrorismo”.
O ex-Presidente francês François Hollande já recomendou que no futuro o Governo não mantenha “nenhum contacto” com a Rússia após a “instrumentalização” feita por Moscovo, que antes já reiteradamente tem tentado colocar a Ucrânia entre os mandantes do ataque.
Além das insinuações do envolvimento francês no atentado de 22 de março, o Ministério da Defesa russo também afirmou na noite de quarta-feira que a França e a Rússia disseram estar “prontas para dialogar” sobre o conflito na Ucrânia.
“O ponto de partida poderia ser a iniciativa de paz de Istambul”, acrescentou, em alusão à oferta de mediação do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, o que foi imediatamente negado por Paris.
Lecornu tinha dito anteriormente em comunicado que “condenou sem reservas a guerra de agressão que a Rússia lançou na Ucrânia” durante a conversa telefónica com Shoigu.
Emmanuel Macron que, logo no início da guerra na Ucrânia, jogou uma carta diplomática com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, indo além de Kiev e dos seus aliados ao declarar que não queria “humilhar a Rússia”, transformou-se recentemente num crítico de Moscovo.
O líder francês apelou para o apoio total à Ucrânia para que “a Rússia nunca ganhe”, em meados de março, algumas semanas apenas após gerar polémica ao não descartar um envio de tropas para solo ucraniano.
O telefonema do seu ministro a Shoigou foi uma exceção no panorama de quase ausência de conversas de alto nível de países ocidentais com Moscovo desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Por exemplo, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, e o secretário de Estado americano, Antony Blinken, falaram ao telefone pela última vez em abril de 2023.
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