“Na Tunísia, a fortíssima tensão política, a crise económica e social que se alastra na ausência de um acordo com o Fundo Monetário Internacional [FMI], [são] muito preocupantes”, declarou Macron, numa conferência de imprensa no encerramento de uma reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas.

“[A crise tunisina] leva a uma desestabilização muito grande do país e da região e a um aumento da pressão migratória sobre a Itália e sobre a União Europeia [UE]”, disse Macron, apelando a uma “atuação conjunta” a nível europeu para ajudar a Tunísia e permitir o “controlo da emigração” .

O Presidente francês insistiu na importância de se conseguir “travar, a muito curto prazo, os fluxos migratórios que saem da Tunísia e disse ter falado sobre o assunto com a chefe do Governo italiano durante um encontro bilateral.

Meloni, referindo-se aos receios de mais uma “onda migratória”, considerou “ter tratado” do assunto durante a reunião de Bruxelas, sublinhando que “talvez nem todos os países estejam cientes dos riscos criados pela situação na Tunísia”.

Questionada sobre uma possível missão ítalo-francesa à Tunísia com a comissária europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson, a chefe do executivo italiano respondeu que tudo isso está previsto.

“Sim, há uma missão a nível de ministros dos Negócios Estrangeiros, há várias neste momento que vão à Tunísia. Se não enfrentarmos os problemas adequadamente, corremos o risco de ver uma onda de migração objetivamente sem precedentes”, disse Meloni, cujo Governo de extrema-direita está a seguir uma linha anti-imigração.

Os apelos de Macron e de Meloni acontecem também um dia depois de mais um naufrágio na costa tunisina no mar Mediterrâneo de uma embarcação precária com 38 migrantes oriundos da África Subsaariana a bordo, em que apenas se conseguiram salvar quatro. Os restantes 34 estão dados como desaparecidos.

“Um barco com migrantes afundou-se na costa de Al Lauza [na província de Sfax, leste] com 38 migrantes a bordo”, afirmou Romdhane ben Amor, membro do Fórum Tunisino para os Direitos Sociais e Económicos (FTDES), numa publicação na rede social Facebook.

Hoje, Meloni disse ter também discutido a situação na Tunísia com o comissário europeu para a Economia, Paolo Gentiloni, que estará em Tunes nos próximos dias.

“É preciso trabalhar a nível diplomático para convencer as duas partes, o FMI e o Governo tunisino, a concluírem um acordo para estabilizar financeiramente a região”, sublinhou.

A Tunísia está há vários meses a negociar com o Fundo Monetário Internacional um empréstimo de quase 2.000 milhões de dólares, mas as discussões entre as duas partes parecem ter parado desde que, em meados de outubro, foi previsto um acordo de princípio.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, por seu lado, alertou segunda-feira que a situação na Tunísia é “muito perigosa”, evocando mesmo um risco de “colapso” do Estado suscetível de “provocar fluxos migratórios para a UE e causar instabilidade na região MENA” (Oriente Médio e Norte da África), análise descrita como “desproporcional” e rejeitada por Tunis.

A Tunísia tornou-se nos últimos anos um dos principais pontos de partida de barcos com migrantes de vários países de África, nomeadamente da região subsaariana, que tentam atravessar o mar Mediterrâneo para chegar à Europa.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) divulgou no seu portal oficial na internet que, só este ano, mais de 430 pessoas morreram ou foram dadas como desaparecidas ao tentar cruzar o Mediterrâneo, número que chegou quase a 2.400 em 2022, o maior desde 2017.