"O abate é legal. É feito com o máximo rigor, para garantir que a espécie não seja prejudicada. Temos números que mostram que ela não está em perigo, pelo que, hoje em dia, esta é uma medida relativamente bem aceite", disse à agência Lusa o vice-presidente do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza, Paulo Oliveira.

O responsável lembrou que, em 1986, o pombo-trocaz, cujo habitat natural é a Floresta Laurissilva (cerca de 1/5 da área da Madeira), foi considerado "espécie vulnerável" pela IUCN - International Union for Conservation of Nature and Natural Resources e incluído na Diretiva Aves da comunidade europeia, passando a ser proibida a sua caça, que era praticada desde o início da colonização, no século XV.

Em 2009, a espécie passou a "não ameaçada", mantendo, no entanto, o estatuto de "protegida".

A população de pombo-trocaz cresceu e extravasou os limites da floresta, espalhando-se por toda a ilha e, assim, tornou-se um problema bastante grave para os agricultores.

"Em muitos casos, o pombo está, de facto, a tirar a comida das pessoas", disse Paulo Oliveira, vincando que as diretivas comunitárias preveem, em situações limite, medidas como o abate, a cargo das autoridades, nomeadamente a Polícia Florestal.

Sempre que a medida é aplicada, o número de exemplares abatidos varia entre os 300 e os 450 por ano.

O responsável explicou, no entanto, que dentro da Floresta Laurissilva (Património Mundial da Humanidade), onde a população está estimada em 12 mil exemplares, nenhum animal é abatido e mesmo nas áreas agrícolas a medida só é aplicada em "caso comprovado de prejuízo para as culturas", devidamente verificado pelo Instituto das Florestas e Conservação da Natureza.

Paulo Oliveira disse, por outro lado, que o Governo Regional pretende estender a autorização de abate das aves aos agricultores e caçadores, face ao crescimento da espécie, mas as diretivas internacionais não o permitem, pelo menos até 2019.

"O problema do pombo-trocaz é causado pelo sucesso das medidas de conservação", vincou, realçando ainda que a ave, apesar de ser exclusiva da Madeira, é muito pouco estimada pela população local.

Tendo em conta a pequena dimensão da propriedade agrícola na Madeira, os pombos podem destruir culturas inteiras - em muitos casos de subsistência - em apenas dois dias, situação que se agrava pela sua dieta diversificada, pois consomem todos os produtos hortofrutícolas, exceto citrinos e milho.

O Governo Regional da Madeira determina com regularidade períodos de abate, já que os métodos de afugentamento das aves, designadamente sonoros (espanta-pássaros a gás), redes de exclusão e fitas holográficas refletoras, revelaram-se pouco eficazes e as consequências socioeconómicas continuam a ser "nocivas" para os agricultores.

No interior da Floresta Laurissilva, porém, a espécie desempenha uma função muito importante, na medida em que é um dispersor de sementes, contribuindo assim substancialmente para o equilíbrio do ecossistema.

O pombo-trocaz é um animal corpulento e de hábitos gregários, sendo que é uma das três espécies endémicas da Macaronésia, região que agrupa os arquipélagos da Madeira, Açores, Canárias e Cabo Verde.