“Não deixa de ser irónico que no dia em que passam 30 anos sobre o massacre de Ruanda, estamos na rua para chamar a atenção, para dizer que chega de um novo genocídio, desta vez na Palestina (…) e o mundo continua a dormir. Israel ignora o Tribunal Internacional, Israel ignora o Conselho de Segurança da ONU, Israel ignora tudo”, criticou o elemento da Plataforma Unitária de Solidariedade com a Palestina (PUSP)
A ativista defendeu a existência de “sanções e sanções económicas porque já se percebeu que, de acordo com o Direito, Israel não vai agir”.
A PUSP nasceu em outubro quando se iniciou a atual guerra na Faixa de Gaza.“Nunca pensámos que seis meses depois ainda aqui estaríamos e que teríamos que continuar, e vamos continuar, porque o cansaço já é muito grande, mas não é nada comparado com o que estão a sentir e a passar as pessoas lá”, garantiu à Lusa Ana Nicolau, que apelou às “pessoas que têm coração” digam na rua “não, basta, é preciso um cessar-fogo permanente, incondicional e imediato”.
Com o calendário já a marcar abril, mês em que se assinala a revolução portuguesa de 1974, a organização quis também recordar a data porque “com Abril veio a liberdade, obviamente, e veio a descolonização", assinalou, fazendo um paralelo com a situação de Israel e da Palestina.
A marcha partiu da Praça do Município, Lisboa, pouco depois das 15:40 em direção ao Largo do Intendente, com passagem pelo Largo do Carmo.
Ainda frente ao edifício da Câmara Municipal de Lisboa, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, defendeu ser um dever de Portugal reconhecer o Estado da Palestina e desafiou o ministro dos Negócios Estrangeiros [Paulo Rangel] a abandonar “posições irresponsáveis em que negava o genocídio” em Gaza.
Também no local, o jovem iraquiano Akram diz ter participado já em três manifestações porque se deve "mostrar a solidariedade" à Palestina.
À pergunta se continuará a juntar-se a ações como esta, o jovem, há três anos em Portugal, respondeu que todos vão continuar.“As nossas gerações vão continuar até a Palestina ser livre. Até cada palestiniano ter a sua justiça”, garantiu.
Junto ao quartel do Carmo, um dos símbolos maiores da revolução de Abril, a multidão cantou a música “Grândola, Vila Morena”, que também é sinónimo da revolução dos cravos, que há 50 anos derrubou o Estado Novo.
Ali, Mário Tomé, elemento do Movimento das Forças Armadas e antigo deputado do extinto partido UDP, recordou como o povo palestino está a lutar desde 1948, ano da independência de Israel e do início do conflito israelo-palestiniano.
“O genocídio começou nessa altura”, afirmou.
Mário Tomé recordou outros “massacres”, notando que “agora eles estão-se a aproximar daquilo a que o Hitler chamou um dia de solução final”. “Eles querem chacinar ou mandar para o deserto, ou não sei para onde, o povo palestiniano”, segundo o antigo deputado, que acrescentou críticas a quem “colabora ativamente” já que “são tão criminosos como o (primeiro-ministro israelita) Netanyahu e essa gente”.
O conflito em curso na Faixa de Gaza foi desencadeado pelo ataque do Hamas em solo israelita de 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
Desde então, Israel lançou uma ofensiva em Gaza que provocou mais de 33.000 mortos, segundo o Hamas, que governa o pequeno enclave palestiniano desde 2007.
A retaliação israelita está a provocar uma grave crise humanitária em Gaza, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que já está a fazer vítimas - “o número mais elevado alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
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