Em entrevista à Lusa em Moscovo, Ribakov contrariou que tenham sido somente decisões de Putin a levar à invasão da Ucrânia a 24 de fevereiro do ano passado, apontando sim para o “modo do desenvolvimento do poder estatal ao longo dos anos”.

“Foi este sistema que conduziu ao deflagrar da guerra”, diz Ribakov.

“Já na guerra da Chechénia o exército fora usado contra a população pacífica. Tanto na primeira, como na segunda guerra da Chechénia, o emprego de armas contra alvos civis foi apresentado pelo regime como aceitável. Não se levantou, no país, nenhum movimento contra a guerra”, disse à Lusa.

Ribakov salienta que hoje “todos os partidos votam da mesma maneira, tanto na Câmara Baixa, como Câmara Alta” do parlamento, e também a comunicação social “ocupa o mesmo espaço político, apoiando Putin com maior ou menor agressividade”.

O sistema judicial, sobretudo depois das alterações introduzidas na Constituição, “está em total dependência do poder”, sublinha.

Para o líder do Iabloko, havia sinais “há muito tempo” de que uma invasão poderia ocorrer e o partido alertava há muitos anos para a possibilidade.

“O Iabloko avisou bem alto, já em 2014, para o perigo das tendências políticas de então. Uma das nossas diretivas era impedir o que aconteceu em 24 de fevereiro do ano passado. Como pessoas, esperávamos que não acontecesse; como políticos, apontávamos para o perigo”, disse à Lusa.

Ribakov sublinha que já no verão de 2021 Putin publicou no site do Kremlin um artigo, reproduzido por vários jornais, pondo em causa a “história e estatalidade da Ucrânia”, mas “ninguém lhe prestou atenção, nem na Rússia, nem no estrangeiro”.

“O horror da situação decorre do facto de ninguém prestar atenção ao que Putin diz entrelinhas. Nós dissemos aos eleitores: vejam, o partido do Putin apresenta-se a eleições com uma lista encabeçada pelos ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros. Que mais era preciso para que entendessem? Putin não fala claramente, mas sabe dar a entender os seus planos e intenções”, sublinha.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas — 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.173 civis mortos e 13.620 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.