Salah Salem Saleh Sulaiman, de 46 anos, um cidadão dinamarquês de ascendência iemenita, foi acusado de espalhar notícias falsas depois de publicar, a 21 de abril, um vídeo no YouTube. Nas imagens, o homem acusava a polícia de demorar 50 minutos a responder a um pedido para prestar socorro a um palestiniano Faid al-Batsh atingido a tiro por dois homens, que ainda não foram identificados, em Kuala Lumpur, e que viria a falecer.

Contudo, a polícia nega o sucedido. Segundo o inspetor-geral da polícia da Malásia, Mohamad Fuzi Harun, o pedido foi registado às 06h41 e um carro patrulha chegou ao local apenas oito minutos depois.

De acordo com a acusação, Sulaiman agiu “com má intenção quando publicou notícias falsas através de um vídeo no YouTube”, diz a Reuters. O próprio já justificou o ato, considerando-se culpado e dizendo que o vídeo foi publicado “num momento de raiva”. “Concordei que cometi um erro… peço desculpa a todos na Malásia, não apenas à polícia”, referiu.

Quanto à pena, o juiz multou o dinamarquês em 10 mil ringgit (aproximadamente 2.100 euros), mas Sulaiman optou por ficar um mês na prisão, por não ter como pagar o valor em causa.

O parlamento da Malásia proibiu, a 2 de abril, as notícias falsas, apesar das críticas de que a lei será usada parra silenciar os dissidentes. Depois de uma aceso debate, a lei que proíbe as “fake news” foi aprovada com 123 votos a favor e 64 contra.

O projeto de lei prevê uma coima máxima de 500.000 ringgit (104.929 euros) para infratores e a pena de prisão de até seis anos.

O "Anti-Fake News Act" abrange “notícias, informações, dados e relatórios que são total ou parcialmente falsos”, incluindo imagens e gravações de áudio.

A lei abrange publicações digitais e também se aplica a situações fora da Malásia, incluindo estrangeiros, se a Malásia ou um dos seus cidadãos forem afetados.

Escreve a Associated Press que Salah teria chegado há 10 dias ao país e que não tinha conhecimento da lei. Já a imprensa local adiante que o agora condenado não tinha qualquer tipo de relação com a vítima, um engenheiro palestiniano vinculado ao Hamas.

Diversas organizações de defesa dos direitos humanos denunciaram a nova norma como sendo um instrumento de censura e com o objetivo encerrar a discussão sobre um escândalo financeiro, que envolve o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak.

Os Estados Unidos e vários países estão a investigar as acusações de que Najib Razak recebeu em contas bancárias pessoais 700 milhões de dólares de um fundo de investimento público.

O Governo malaio rejeitou estas denúncias e acusou a oposição de usar notícias falsas para ganhar votos, afirmando que as notícias sobre apropriações indevidas de um fundo estatal e as acusações de lavagem de dinheiro são falsas.