O número de manifestantes foi indicado à Lusa por fonte da PSP junto à Praça dos Leões, local onde o protesto começou, pelas 15:00, integrado na “Marcha Mundial contra a Monsanto”, empresa “pioneira na produção de químicos relacionados com a agricultura”, explicou Vanessa Ferreira, da associação “Porto sem OGM [Organismos Geneticamente Modificados]”.
“Queremos banir de Portugal os OGM [também designados por transgénicos] e os pesticidas e herbicidas com glifosato. Está provado pela Organização Mundial de Saúde que são cancerígenos e chegam aos nossos pratos todos os dias. Temos já mais de 16 mil assinaturas para levar a questão ao Parlamento e exigir saúde, que é um direito constitucional”, adiantou Vanessa Ferreira.
Para esta engenheira mecânica de 45 anos, a “solução” para o problema, que não afeta apenas a produção agrícola porque os químicos são também usados nos alimentos dos animais, é “boicotar os OGM e a agricultura com químicos”, nomeadamente optando “por produtos com certificação biológica”.
“Os mais prejudicados somos nós. Não acredito que quem produz esses químicos e está por trás deste excelente negócio se alimente daquilo que produz”, acrescentou.
Vanessa Ferreira adiantou que os químicos sempre fizeram parte da agricultura e continuam a ser usados, “sem necessidade”, mas alertou que o problema se agrava com os OGM.
“Quando a semente é geneticamente modificada fica mais resistente ao herbicida e suporta uma quantidade maior de químico. Uma semente normal nem aguenta aquele nível de toxicidade”, explicou.
Para outro dos organizadores do protesto, Hugo Dunkel, da Associação Local, está em causa uma “questão de interesses económicos, lobbies, de políticas de governo e de consciência”.
“As sementes geneticamente modificadas não são férteis. No ano seguinte, é preciso comprar mais, em vez de se colherem as sementes de produção do ano anterior. Este é um negócio que se alimenta a si próprio”, observou.
Hugo Dunkel alerta ainda que estão a produzir-se “estruturas moleculares desconhecidas”, ao passo que “o uso de glifosato de forma continuada é prejudicial”.
“O que defendemos é que estas não são as estratégias mais sustentáveis, mas as que dão mais dinheiro às indústrias dos pesticidas e herbicidas e à indústria dependente do petróleo”, frisou.
Presente na manifestação, Ana Paula Pacheco, uma investigadora de microbiologia, de 52 anos, explicou à Lusa ter-se interessado sobre este assunto depois de o pai e a mãe terem tido “cancro nas vias urinárias”.
“Comecei a ler sobre este assunto e descobri que o sítio onde vivo era frequentemente pulverizado com herbicida”, relatou.
Para a investigadora, o problema “já nem é apenas o glifosato”, porque “toda a fórmula química” dos herbicidas “é um cocktail de veneno”.
O Partido Ecologista Os Verdes (PEV) associou-se ao protesto, e, segundo Luísa Barateiro, está em causa um problema “de saúde pública”.
“Temos tido inúmeras iniciativas legislativas e estamos a tentar mudar mentalidades e proteger as pessoas. Há muitos estudos sobre a nocividade destes produtos. Apenas por cegueira não se consegue ver o problema”, observou.
Luísa Barateiro admitiu que esta “cegueira” pode estar relacionada com “muitas pressões da indústria agroquímica”.
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