Durante uma aula no Colégio Moderno, em Lisboa, que se estendeu por três horas, em que começou por falar sobre Mário Soares e depois respondeu a perguntas dos alunos, Marcelo Rebelo de Sousa situou-se ideologicamente na "esquerda da direita", definindo-se como "de direita social" e "não liberal", e declarou-se um "otimista", mas não tanto como o primeiro-ministro.
"Eu às vezes digo: não, o senhor primeiro-ministro irrita-me um bocadinho, porque é evidente que há problema e está tentar explicar-me que não há esse problema, e não me entra na cabeça. E depois recorro a um argumento de autoridade, a que não se deve recorrer: é que eu ando a analisar a política portuguesa há 50 anos", afirmou.
Perante uma sala cheia de alunos do 10.º, 11.º e 12.º anos, o chefe de Estado referiu: "Ainda no tempo da ditadura já fazia análise, era cortada pela censura, mas fazia. Analisei todos os presidentes, analisei todos os primeiros-ministros, analisei todos os governos. Portanto, não me venha dizer que roxo não é roxo, é um violeta sei lá o quê".
"Como é que se chama a cor do PS? Rosa. É um violeta-rosa, é mais rosa do que roxo", prosseguiu, simulando um diálogo com o primeiro-ministro: "Não, é roxo. Não, é rosa".
Marcelo Rebelo de Sousa terminou esta aula considerando, com base neste seu "realismo", que o saldo das mudanças no país nas últimas décadas é positivo.
"Tenho a certeza, quando um de vocês vier daqui a uns anos falar como Presidente da República no Colégio Moderno, o país será ainda muitíssimo melhor, e eu lá de cima estarei a aplaudir", concluiu, sob aplausos.
Nesta aula, tendo ao seu lado a filha de Mário Soares, Isabel Soares, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou o antigo Presidente da República, que morreu em janeiro deste ano, como "uma pessoa de grande coragem física e psíquica" e descreveu todas as fases da sua vida, na oposição à ditadura e em democracia.
A propósito dos tempos do Bloco Central, o chefe de Estado defendeu que essa solução "é sempre uma forma muito transitória", embora possa ser, "aparentemente, muito bonita".
Numa nota mais pessoal, Marcelo disse aos alunos que "em quase todas as decisões importantes" da sua vida "quis ouvir, a partir de uma certa altura, a opinião de Mário Soares", por exemplo, quando foi "convidado para ir para o Governo da Aliança Democrática" ou quando ponderou "os prós e contras de vir a ser líder do PSD, numa emergência".
Por outro lado, o chefe de Estado voltou a criticar os discursos antieuropeus e pela saída do euro, considerando que "apostam na insatisfação das pessoas" e "fazem o que é mais fácil, que é dizer: isto que existe tem de ser rejeitado, apresentado propostas alternativas - quando apresentam - que não são exequíveis".
"E se a moeda desvaloriza de uma forma brutal? E se depois, de repente, há uma crise económico-financeira brutal naquele país porque a moeda não vale nada? Como é que é?", questionou.
Marcelo Rebelo de Sousa criticou também os defensores da União Europeia, defendendo que devem "ir mais longe nessa luta pela Europa" e "têm de aprender a lição" em vez de andarem, a cada eleição, "aflitos durante 15 dias a ver se ganham as correntes europeístas".
"Não, mais vale prevenir. Antes mesmo de haver eleições, o que é que precisamos de fazer para nos entendermos para que realmente a Europa funcione melhor, para não irmos a reboque dos acontecimentos. O bom político não é aquele que vai apagar o fogo quando já há fogo, é aquele que previne o fogo", defendeu.
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