"No dia 6 de novembro de 2020 decretei o segundo e mais longo estado de emergência que hoje conhece aquela que desejaria que fosse a sua última renovação até às 23:59 do próximo dia 30 de abril", começou por dizer Marcelo Rebelo de Sousa, numa declaração ao país, a partir do Palácio de Belém, em Lisboa.
O Presidente da República elucidou que o período mais difícil, desde que assinou o decreto do estado de emergência em novembro, foi aquele que se seguiu a 15 de janeiro. "Foram mais de cinco meses de estado de emergência e quase três meses de confinamento geral", disse, acrescentando que apesar de ter sido "menos restritivo" do que o primeiro no ano anterior, este foi mais intenso, até porque os "números atingidos colocaram-nos na pior situação da Europa e depois no mundo".
No entanto, agora, afirma, é tempo de preparar o desconfinamento, que deve seguir "o seu curso", de forma "gradual e sensata".
Dirigindo-se aos portugueses, o chefe de Estado acrescentou: "Hoje quero sobretudo pedir-vos ainda mais um esforço, para tornar impossível o termos de voltar atrás, para que o estado de emergência caminhe para o fim, para que o desconfinamento possa prosseguir sempre com a segurança de que o calendário das restrições e os confinamentos locais, se necessários, garantem um verão e um outono diferentes".
"Estamos a entrar no que desejamos que venha a ser o começo da ponta final do período mais difícil da nova vida coletiva desde a gripe a espanhola — em termos de saúde pública — com mais mortes do que na Grande Guerra ou nas lutas africanas de há 50 a 60 anos. É a ocasião para recordamos os que partiram, de cuidarmos dos que ainda sofrem. Prevenirmos que muitos mais e por mais tempo não venham a sofrer", afirmou.
O Presidente da República continuou a sua chamada de atenção à atitude dos portugueses nestes tempos difíceis e de sucessivas restrições. "Quando chamados ao heroísmo dos grandes desafios, como neste caso, os da vida e da saúde, os portugueses respondem sempre com coração e solidariedade", frisou o Chefe de Estado.
Para finalizar a mensagem que durou praticamente seis minutos, salientou que é altura de "pensarmos mais no futuro", "com orgulho legítimo de termos estado, e estarmos, como povo, à altura daquilo que foram os grandes desafios da nossa história de quase nove séculos, de continuarmos a estar à altura de Portugal".
Sobre os "problemas de fornecimento e de avaliação de vacinas" verificados no espaço europeu, o Presidente da República disse que "parecem para alguns obstáculos intransponíveis", mas que "a verdade é cada mais vulneráveis dos mais vulneráveis estão já protegidos".
"Isso também ajuda a explicar a essencial redução e depois estabilização de internamentos, de cuidados intensivos e de mortos a que assistimos nas últimas semanas, mesmo com R [índice de transmissão do vírus SARS-CoV-2] e com o número de casos a subirem com maior mobilidade social", salientou.
"2021 terá de ser o ano do início da reconstrução social"
Marcelo Rebelo de Sousa considerou que "o desconfinamento cria a sensação de alívio definitivo", mas que "o caminho que se segue ainda vai ser muito trabalhoso".
O chefe de Estado disse que ainda "vai dar trabalho na pandemia, sobretudo nas áreas em situação mais crítica", e "vai dar trabalho nos números da economia".
"Embora saibamos que houve indústria, agricultura, algum comércio e serviços que não pararam, como houve o Estado a suportar emprego rendimentos de muitos portugueses", referiu.
No entanto, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "mais complicado do que os números da economia é a situação das pessoas", porque se "a economia demorará a dar os passos da reconstrução, a sociedade demorará muito mais".
O Presidente da República salientou que o atual contexto deixou "marcas na vida pessoal, familiar e profissional" e provocou um "agravamento da pobreza, das desigualdades, das injustiças".
"Se 2020 foi o ano da luta pela vida e pela saúde, 2021 terá de ser o ano do início da reconstrução social, sustentada e justa, em que não basta que as pessoas devam ser o centro da justiça, do direito, das finanças, da economia, da política, o centro, têm de sentir que verdadeiramente o são", acrescentou.
* com agências
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