Marcelo Rebelo de Sousa deixou esta mensagem no encerramento de uma conferência do Fórum para a Competitividade – Associação para o Desenvolvimento Empresarial, no Centro de Congressos de Lisboa.
Numa intervenção de 20 minutos, o chefe de Estado considerou que em Portugal "os protagonistas políticos, económicos e sociais defensores de um percurso diferente não têm logrado alcançar força persuasiva para que o seu discurso constitua um discurso alternativo e, sobretudo, constitua uma solução alternativa".
"Não é impunemente que fomos das primeiras monarquias absolutas da Europa e das últimas a deixarem de o ser – se é que em quadros mentais o deixámos de ser, no que respeita à supremacia do Estado sobre a sociedade civil", observou.
No final do seu discurso, o Presidente da República incentivou o setor privado a "prosseguir o seu empenho ou, se quiser, a sua luta, para ter protagonistas institucionais, políticos e outros, mais fortes, para ter discurso político com mais eco nos momentos de decisão popular e eleitoral", mesmo que esteja descontente com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
"Nomeadamente distinguindo o que é seu efetivo papel e o peso do investimento privado daquilo que pode ser um desperdício irreversível, para converter o sentimento aqui hoje expresso em acicate para o que são os anos imediatos: travar a batalha cultural, travar a batalha institucional, travar a batalha correspondente ao seu efetivo peso na criação do Produto Interno Bruto (PIB), com trabalho, competência, visão de longo fôlego, qualificação e responsabilidade social", completou.
Marcelo Rebelo de Sousa pediu aos privados que atuem "com realismo e com independência, com sentido do bem comum, evitando a perpetuação da inelutável e casuística tendência de os poderes públicos quererem influenciar e determinar o seu sentir".
O chefe de Estado passou a primeira metade da sua intervenção a recordar palavras suas em anteriores conferências desta associação, de 2016 a 2019, sobre "o papel essencial da iniciativa da privada" e a defesa de "mais estímulos ao investimento privado" e de "metas mais ambiciosas" para o crescimento económico.
"Há que lembrar uma vez, duas vezes, vezes sem conta de que sem crescimento não há mais justiça social, o que é mais urgente do que nunca, de que sem investimento não há crescimento, e que é o investimento privado o decisivo para o imprescindível crescimento – repito, não se trata de ideologia, trata-se de realismo numa economia feita de milhares e milhares de empresas privadas", sustentou, em seguida.
Referindo-se ao atual contexto de crise económica e social resultante da pandemia de covid-19 e ao papel dos fundos europeus, Marcelo Rebelo de Sousa advogou que, "quanto mais nessa reconstrução se olhar para a sociedade civil e não se marginalizar o seu contributo, maior será a potenciação desta oportunidade – mesmo se condicionada à partida".
O Presidente da República acrescentou que, "quanto mais longe for a recuperação económica" e "quanto mais duradouro for esse crescimento económico, mais célere e justo será o enfrentamento na crise social".
E argumentou ainda que, "quanto mais bem sucedido for o enfrentamento na crise social e o combate à pobreza e às desigualdades, mais limitada será a subida dos radicalismos e mais evidente a afirmação dos moderados".
Em declarações aos jornalistas, à saída desta conferência, Marcelo Rebelo de Sousa reforçou a mensagem de que "é preciso que aqueles que entendem que a iniciativa privada tem um papel a desempenhar façam passar o seu discurso para que o eleitorado ache mesmo que é importante esse papel".
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