À saída de uma iniciativa na Reitoria da Universidade de Lisboa, o chefe de Estado português considerou também "fundamental que o Brasil esteja empenhado" no "novo ciclo" que está em preparação na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). "Espero bem que aconteça", observou.

Quanto às relações bilaterais, Marcelo Rebelo de Sousa salientou que "há uma comunidade portuguesa e lusodescendente fortíssima no Brasil, de várias gerações, e agora há uma comunidade brasileira fortíssima em Portugal".

"Portanto, os países têm de se dar bem, e eu espero que seja isso aconteça no mandato de quatro anos do Presidente que acaba de ser eleito", afirmou.

Interrogado se Portugal vai relacionar-se com o Brasil com o mesmo entusiasmo que tinha até aqui, o Presidente da República respondeu que "os chefes de Estado não têm de ter entusiasmo ou não ter entusiasmo, esse é um problema dos cidadãos", e que a sua função é "defender, naturalmente, os respetivos povos".

"Fiz questão de enviar a mensagem ao Presidente Jair Bolsonaro e de lembrar a nossa fraternidade, que é histórica e atual, a comunidade portuguesa fortíssima no Brasil e a comunidade brasileira fortíssima em Portugal. Que o mesmo é dizer: esperar que nestes quatro anos haja um trabalho em conjunto a nível de chefes de Estado, mas também de chefe de Estado brasileiro com o Governo português, uma vez que o sistema brasileiro é presidencialista", acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa frisou que "há uma sobreposição enorme" de interesses "porque há uma área de dupla nacionalidade como há com pouquíssimos Estados".

O candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro, de 63 anos, capitão do Exército brasileiro na reforma, filiado no Partido Social Liberal (PSL), foi eleito no domingo o 38.º Presidente da República Federativa do Brasil, com 55,1% dos votos, na segunda volta das eleições presidenciais brasileiras.

De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral do Brasil, Fernando Haddad, de 55 anos, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), obteve 44,9% dos votos, e a abstenção registada foi de 21,3%, num universo de cerca de 147,3 milhões de eleitores inscritos.

Questionado sobre o que espera da presidência de Bolsonaro no plano da CPLP, Marcelo Rebelo de Sousa começou por declarar: "Vamos ver. Não sei, vamos ver".

"Há uma mudança de testemunho no fim desde ano, que já começou, do Brasil para Cabo Verde, na presidência, e vai continuar com a passagem do secretariado executivo de São Tomé e Príncipe para Portugal, e a preparação agora de um novo ciclo na CPLP, em que é fundamental que o Brasil esteja empenhado. Espero bem que aconteça", completou.

No seu entender, é "fundamental" que o Brasil tenha "um papel importante" na CPLP.

O Presidente da República mencionou que felicitou Jair Bolsonaro no domingo como fez "sempre em relação a outras circunstâncias paralelas", por exemplo, "dois dias antes tinha enviado uma mensagem também de felicitações ao Presidente irlandês que foi reeleito".

Marcelo Rebelo de Sousa não quis neste contexto especular sobre a possibilidade de um crescimento da extrema-direita em Portugal.

"As eleições brasileiras são um problema do povo brasileiro, uma decisão soberana do povo brasileiro. A situação portuguesa é decidida pelos portugueses e eles terão ocasião de decidir, agora, em várias eleições", afirmou.

Jair Bolsonaro, que elogia o período de ditadura militar no Brasil e se declarou "favorável à tortura", já tinha sido o candidato mais votado na primeira volta das presidenciais brasileiras, no dia 07 de outubro, com perto de 46% dos votos, e liderou sempre as sondagens contra o seu adversário Fernando Haddad na segunda volta.

O Presidente eleito do Brasil foi desde 1991 deputado federal, eleito pelo Rio de Janeiro, e passou por diversas forças políticas, a anterior das quais o Partido Social Cristão (PSC), até se filiar no PSL, este ano.

Haddad foi indicado como candidato do PT à presidência do Brasil a meio de setembro, após o antigo Presidente Lula da Silva, que cumpre pena de prisão de doze anos, condenado por corrupção passiva e branqueamento de capitais, ter sido impedido pelo Tribunal Superior Eleitoral de se recandidatar nestas eleições.

[Notícia atualizada às 15:11]