"O presidente só pode sair em visita oficial com autorização da Assembleia", lembrou Marcelo. "Eu pedi por escrito à Assembleia que manifestasse a sua autorização à minha deslocação ao Qatar", sublinhou, em Fátima, no concelho de Ourém.

Marcelo disse aos jornalistas ter apontado "três ou quatro coisas fundamentais" no seu pedido a São Bento, nomeadamente "tradicionalmente temos ido com o sr. presidente da Assembleia da República e o sr. primeiro-ministro a vários jogos e estava programado fazermos o mesmo."

"Se houver autorização do parlamento e se houver concordância com o presidente da Assembleia da República e o primeiro-ministro e se eu for, irei pela seleção nacional, como numa visita de estado. Vai-se pelo interesse nacional", justificou Marcelo, mesmo em caso de ir a países "com regimes muito diferentes do nosso". Se não, "não podíamos nem visitar, nem receber, nem ter relações com três quartos do mundo, porque não são democráticos", defendeu o Presidente da República.

"A minha ideia era, em território português, dizer o que penso sobre os direitos humanos do Qatar e, depois, no Qatar, dizer o que penso sobre os direitos humanos", apontou o Presidente da República.

“Estou convidado por fundações privadas, uma das quais a Aga Khan, para falar num tema sobre o futuro, a educação e o futuro das sociedades. É muito difícil falar do futuro das sociedades sem falar da democracia, dos direitos humanos e da liberdade”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

Marcelo Rebelo de Sousa referiu ainda que uma das razões para ir ao Qatar são “os direitos humanos em termos de liberdades das pessoas, as mais diversas liberdades” e “os direitos humanos dos trabalhadores que trabalharam na construção do estádio e cuja situação é dramática e que implica uma responsabilidade que um Estado de direito deve garantir às suas famílias e aqueles que morreram no exercício de uma atividade profissional”.

Segundo salientou, as suas declarações sobre os direitos humanos no Qatar na quinta-feira, após o jogo de preparação entre Portugal e a Nigéria, foram da sua iniciativa, considerando ser o momento certo para o fazer.

“Pareceu-me que naquele contexto tinha de falar dos direitos humanos. Se se tratava de um jogo preparatório para o Qatar era muito estranho que naquela ocasião, a primeira depois de ter pedido ao parlamento para se pronunciar [sobre o pedido de autorização para viajar para o Qatar]”, não falasse nos direitos humanos, assumiu.

Sobre as declarações do diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal, Pedro Neto, que se mostrou “estupefacto” com as declarações do Presidente da República sobre os direitos humanos no Qatar, e pediu para que não fosse assistir ao Portugal-Gana em 24 de novembro, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que é sócio da AMI e não tem visto “muitos chefes de Estado a serem tão veemente e tão claros na condenação do que se passa em termos de direitos humanos no Qatar”.

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou ainda que pretende passar pelo Egito nesta viagem.

Ontem, o presidente da República falou após a vitória de Portugal sobre a Nigéria, por 4-0, no último particular antes da partida para o Qatar, na sexta-feira, para disputar o Campeonato do Mundo, e as suas declarações têm vindo a ser criticadas.

“O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal..., mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começámos muito bem e terminámos em cheio”, disse.

Rebelo de Sousa afirmou este será “um campeonato muito difícil”, não só por uma inédita calendarização no inverno europeu, como pelas “condições muito difíceis, da construção dos estádios aos direitos humanos”.